domingo, 26 de agosto de 2007

PEQUENAS REFLEXÕES QUE ACOMPANHAM A PESSOA


Este na foto é meu grande amigo Roberto Oliveira. É ator e diretor de teatro, embora não acredite que faça bem nenhuma das duas coisas. No máximo, engana. Prefiro omitir meus comentários para não magoar o amigo. Roberto tem 53 anos e chega nesta idade com tremendas reflexões pesando, incomodando, perturbando sua cabeça. São dúvidas terríveis à respeito do passado, do presente e do futuro. Sente como se os 50 anos fossem um divisor de águas, a descida da serra da vida, lomba abaixo na velocidade vertiginosa dos tempos pósmodernos. Tenta agarrar-se à vida e aproveitar o mais que pode, mas percebe que a vida lhe escapa por entre os minutos perdidos e então tenta inutilmente recontar os minutos perdidos, o tempo perdido, detectar as escolhas erradas, contabilizar os fracassos do percurso e chegar a aniquiladora sensação de ter feito mais de 90% das suas escolhas erradas. A demolidora certeza de ter fracassado. Afirmou para mim, que acha-se um artista medíocre e medroso e que, em diversos momentos, deparou-se com a barreira concreta dos seus limites intransponíveis, fracassando na missão auto-imposta de construir uma obra perene, quando lida com uma arte absurdamente efêmera. Fico pensando, cá com meus modestos botões: uma pessoa que pensa assim, vai continuar pensando assim pelo resto da vida, e então, daqui há, digamos, 10 anos, estará pensando se não errou nas escolhas que fez durante estes 10 anos. Ou, pior, pensando nas escolhas que está fazendo agora, e errando, sem saber o que é certo e o que é errado. Levado por uma profissão que lhe encantou desde a primeira vez que representou, mas que, até o presente momento, deve responder diariamente porque é necessário continuar, acreditar. E sempre a dúvida. E em todos os tempos, condenado. É possível. É bem possível. Mas são apenas reflexões de um amigo que durante toda a sua vida foi levado impulsivamente a fazer suas escolhas. Com as mulheres, todas, acertou sempre em cheio. Com o teatro, com a profissão, ele não tem tanta certeza. Apenas pequenas reflexões que acompanham este senhor.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

TALVEZ DEPOIS DO RAIO



por timidez ou por respeito ao planejamento gráfico ou sei lá porque motivo o novo disco de marcelo delacroix recém lançado (Depois do Raio) e à venda nas boas casas do ramo saiu sem foto dele. eu que sou amigo dele no orkut e fã incondicional dele tanto na vida real quanto da sua pessoa artista senti falta da foto. quer dizer, o cd é tão lindo que sentir falta da foto é uma frescura um preciosismo da minha parte. eu que já tinha o cd anterior (Marcelo Delacroix) um verdadeiro primor que volta incontáveis vezes ao meu aparelho de som ouvindo “chove sobre a cidade” fiquei emocionado extasiado mais demorado encantado com a voz com o som com as melodias com os arranjos com com com a capa e o encarte do cd com as letras com com o barbosa lessa (cantiga de eira) e entrei no disco e fiquei durante dias ouvindo e ouvindo de novo (a faixa título) depois do raio a estrela ainda está lá e toquei mais uma vez e mais uma vez fui tocado pela música encantadora do marcelo. escutei “gente boa” só pra me dar conta de que já conhecia esta canção da própria boca do marcelo. que coisa mais linda esse rapaz. que coisa mais linda e sensível e boa e do bem que é esse cd. comprem comprem pensava eu enquanto ouvia “ciranda da lua”. e me dei conta que ainda outro dia eu estava ouvindo o disco novo do ângelo primom (mosaico) e que outro dia antes ainda eu estava escutando o último do arthur de faria (música pra bater pezinho) e que eu olha só que chique que orgulho morram de inveja ouvi o próprio último cd que ganhei das próprias mãos do próprio nelson coelho de castro. e então não pude evitar de pensar porque nossa música nosso teatro nossa dança nossos esforços artísticos tem que permanecer trancafiados limitados as nossas estreitas fronteiras quando muito riograndenses condenados a um pequeno circuito “alternativo”. como alcançar o público nacional? como entrar nessa corrente que poderia levar nossos artistas a atingir um mercado maior estando fixados aqui no estado? como não ser forçado a sair daqui e vencer lá fora e a mudar-se para o rio ou são paulo (meu amigo bebeto alves e meu querido totonho villeroy) para fazer uma carreira nacional e finalmente estourar aqui também e ver seu trabalho acontecer na sua própria terra e receber aquele tão ansiado desejado e necessário reconhecimento (eu pelo menos sinto assim). será que estes artistas não querem isso? não querem o mercado nacional e eu que fico pirando com isso? será que tem alguma coisa atrapalhando bloqueando impedindo? algum preconceito atropelando nossos esforços? será que porto alegre é mesmo tão pequena assim tão provinciana assim? ou já mudou cresceu e não estamos vendo? será que se as rádios tocassem em sua programação diária estes e outros músicos daqui será então que eles teriam mais chance de serem reconhecidos e comprados? será que se as emissoras de televisão colocassem nossos músicos e atores e bailarinos na telinha será então que eles veriam seus talentos reconhecidos e veriam suas bilheterias crescerem e seus cds expostos nas vitrines das lojas de disco do país inteiro? talvez... depois do raio mude esta situação. oxalá! mas enquanto isso não acontece acho urgente que tudo tenha foto que a gente tenha cara e que nossa cara seja divulgada mesmo que seja por nós mesmos e que nosso trabalho apareça mas que não seja apenas entre nós mesmos. Encerro com os últimos acordes de “minueto”.