sábado, 19 de abril de 2008

JUNO - UMA BABAQUICE QUE RENDEU OSCAR


A sinopse divulgada pelos releases de tudo quanto é site e veículo de imprensa diz que a jovem Juno, com apenas 16 anos "engravidou acidentalmente de um grande amigo com quem transou apenas uma vez". Pensando que ela é uma jovem bem informada da classe média americana que estuda numa escola cara e bacana, de cara, desconfiei que ela fosse bastante babaca. Daí pra escapar do aborto ela procura nos classificados um casal a quem possa entregar o bebê assim que ele nascer. E encontra um casal de ricaços que, vejam só, está querendo muito adotar uma criança e se propõe a bancar toda a brincadeira de Juno. A maneira como as coisas são resolvidas no filme não podem ser mais superficiais e rasteiras.
Histórias babacas como essa são absolutamente normais no cinema do mundo inteiro e, mais ainda, na mega indústria cinematográfica americana. Mas daí a entregar o oscar de melhor roteiro para esta melosa historinha escrita por Diablo Cody, que é tida como a roteirista-sensação do momento é, no mínimo, pra avacalhar com o troféu. E ainda tem sites e revistas dizendo que ela "tem um estilo invejável", que "os diálogos são espertíssimos, ácidos, com uma linguagem elaborada e ao mesmo tempo inocente", e que " a relação da personagem com o mundo é o que torna o filme memorável".
Não caiam nessa. É um filmezinho sessão da tarde com um elenco que vai de aceitável (a protagonista), passável (papai e madrasta) a muito fraco (amiguinho nerd comedor que não entende muito bem o que fez). Dinheiro gasto à toa. E preferível esperar que passe no SBT.


terça-feira, 8 de abril de 2008

25 CENTAVOS

Remexendo em velhos papéis guardados achei este conto de 1991. na época se chamava vinte e cinco cruzeiros, então atualizei. Aí vai.

O carinha vadiava pela noite chutando as pedras soltas que encontrava na rua. Muito na sua. Vagando pelas calçadas e meios-fios, falando sozinho. Às vezes até cantava bem alto, quase berrando, uns pedaços de músicas que lembrava. Lucy in the sky with diamonds, Lucy in the sky with diamonds... Ria. Imitava John Lennon. Imitava James Dean, James Bond, James Cagney, Jesse James e ria. Lucy in tthe sky with diamonds... Enfiou a mão no bolso e sentiu a pequena moeda sextavada. Pequena merda metálica socada no fundo do bolso direito do jeans surrado. Catou a dita cuja. Vinte e cinco centavos. Não chegava a trinta dinheiros, pensou. O que se pode fazer com vinte e cinco centavos?, perguntou pro primeiro poste de luz. Não dá pra nada, disse o poste. Dá pra tudo. Posso ficar famoso com meus vinte e cinco centavos... O poste riu sonoramente. Tá duvidando? Aceitou o desafio. Let it be... let it be... Entrou no primeiro bar e comprou uma caixa de fósforos beija-flor da companhia fiat lux tendo em média 40 palitos. Lucy in the sky with diamonds... Tocou fogo na mansão de um figurão do governo collorido, que por sorte ou azar estava metido no golpe da previdência. Com paciência, esperou a polícia sentado no cordão da calçada na frente do portão. Demorou de montão pra ouvir as sirenes. A casa estava praticamente destruída pelas chamas quando chegou bombeiro e camburão. Gritaria, sopapo, afobação. Logo depois pintou jornal, rádio e televisão. Pousou pras fotos com o nariz quebrado batendo um samba de breque na caixinha vazia. Deu entrevista pro SBT, pra Manchete e pra Globo assumindo a autoria. No outro dia bem de manhãzinha estaria com a latinha estampada em tudo quanto é jornal e canal de tv. Pra disfarçar a loucura e dar toque político pro assunto, já que o troço ia sair no horário nobre em rede nacional, leu diante das câmeras um manifesto dizendo que aquilo era um protesto contra discriminação racial, a matança no pantanal e a repressão sexual que sofreu desde menino. Que pepino: por ironia do destino, pegou vinte e cinco anos de retiro na Ilha Grande. Tirou de letra, com estilo e pensamento positivo na melhor tradição seishonoiê: Ainda bem que no meu bolso não tinha mais do que vinte e cinco centavos.