quinta-feira, 6 de novembro de 2008

PRÓXIMO ATO - TERCEIRO DIA

Mais um dia de encontro.
De manhã, lá fomos nós para mais uma sessão de Espaço Aberto na Casa das Rosas. A plenária, um pouco menor do que no dia anterior por causa das ausências, decidiu discutir quatro temas: reformas na lei rouanet, diálogos com a sociedade, crítica e residência entre grupos e um quarto tema que não lembro agora qual era, mas isso não tem muita importância porque esta sala de discussão e a que deveria tratar da lei rouanet acabaram não acontecendo. Assim, dois assuntos foram aprofundados e embora não se tenha chegado a conclusões definitivas, foi possível ouvir os mais variados relatos e teorias a respeito de cada uma das questões.
À tarde, mais uma árdua rodada de duas horas com a alemã Erika Ficher-Lichte e depois, outro encontro com a mexicana Ileana Diéguez que apresentou vários exemplos de invenções estéticas urbanas como prática de manifestação política que atua num limite entre o teatro e a teatralidade.
O encontro da noite acabou mais cedo pra mim. Isso porque um dos palestrantes convidados era, nada mais nada menos do que o ator, diretor, autor, dono de teatro, homem das artes, gestor cultural e vítima da ditadura, Sr. Celso Frateschi. Pois este Sr. é o grande, o maior, responsável direto pelo encerramento das atividades do Depósito de Teatro. Consegui ouvir sua palestra vazia em que, dos trinta minutos que dispunha, gastou 28 falando sobre como ele mesmo era bom e importante e como havia sofrido com a ditadura, e como havia aprendido com o Boal, e , enfim, como ele era magnífico e engajado. Mas, não levem muito em consideração o que estou escrevendo, porque sinto muita raiva desta pessoa. Mas que a palestra foi vazia foi. Tanto o papo de produtor de primeiro mundo dos Davids, quanto a discurso do Frateschi puxaram para baixo o nível bacana das discussões.
Em determinado momento ficou insuportável, mesmo repugnante ficar olhando o rosto e ouvindo a voz da referida sumidade que destruiu um sonho coletivo plantado em 1998 e que portanto, deveria estar festejando seus 10 anos, como o Espaço Ágora, do Sr. Celso Frateschi, que decretou este estado de luto em que nos encontramos. Tive que me retirar porque comecei a pensar que tipo de ação eu poderia fazer ou que tipo de atitude eu deveria tomar. Pena que a idade parece que nos torna absurdamente sensatos, e para não estragar a imagem do encontro preferi sair a armar um barraco na hora do debate.
Voltei pro Tulipp Inn pensando algumas coisa que ja pensei, do tipo como pode um homem de teatro, um artista que tem um espaço e o mantém, se torna cego pelo poder de um cargo ridículo no qual não consegue se manter por mais de dois anos, e não enxerga o chão que está pisando e amassa uma flor tão delicada quanto o nosso grupo de teatro? Pensei coisas novas: Como uma pessoa que acaba com um grupo de teatro por omissão e descaso pode ser convidado por uma instituição para falar num encontro internacional de teatro de grupo? Como uma pessoa que tem o seu nome envolvido em acusações de favorecimento do cargo em benefício próprio pode ser convidada para falar num encontro internacional de teatro? A primeira resposta é fácil: eles não sabiam nada sobre a história do Depósito. Mas no segundo caso, todos sabem das acusações feitas nas páginas de O Globo e puderam ler a troca dos e-mails disparados entre os burocratas da Funarte e este senhor. E me parece que, como nas eleições, somente a suspeita, o envolvimento do nome, já deveria afastar este tipo de pessoa deste tipo de evento. Mas não. Talvez o Itaú Cultural esteja envolvido nesta lavagem de nome de pessoa. Ou talvez, ele seja amigo dos curadores e de algum deles. Ele não disse nada além de referir-se a si próprio e "limpar" o seu nome dando a platéia a "sua ficha". Voltei pro hotel carregando um enorme peso, uma tristeza enorme.
Minha única atitude foi entregar-lhe uma carta acusando-o, responsabilizando-o pela morte do Depósito de Teatro que aqui ninguém sabe, mas é um grupo de Porto Alegre, com dez anos de existência e uma série de excelentes trabalhos prestados a cidade e a comunidade em que estava inserido.

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