sábado, 4 de julho de 2009

TORTURANDO CRIANÇAS NO TEATRO INFANTIL


O QUE ESTÃO FAZENDO com o teatro infantil? Será que não tem ninguém vendo o que estão fazendo com o teatro infantil? Será que não tem uma arte-educadora, capaz de se indignar com o que está acontecendo com o teatro infantil? Não tem um psicólogo de pré-escola que tenha a ousadia de botar a boca no trombone para reclamar da programação do teatro infantil? Não tem uma diretora inteligente de uma escola moderna, avançada e inteligente que venha de público manifestar-se sobre o baixíssimo nível do teatro infantil. Não tem um pai, uma mãe que não perceba que não é bom expor o filho a certas peças que estão em cartaz e escreva uma carta para um jornal denunciando o fato. Eu coloquei uma enquete neste blog sobre a qualidade do teatro infantil que se anda fazendo em Porto Alegre. Hoje dei uma olhada num site é fiquei pasmo com a programação. Não vi e não gostei. Ainda bem que eu não sou obrigado a assistir nenhum dos espetáculos em cartaz. Me imaginei criança, com meus pais preocupados com minha formação cultural e me levando obrigado ao teatro para ver uma "pecinha infantil". Que tortura não haveria de ser. Para mim e para eles. Quando crescesse, certamente, eu odiaria o teatro. Há alguns anos atrás, Porto Alegre poderia orgulhar-se do nível de seu teatro infantil em relação ao que é praticado, por exemplo, no Rio de Janeiro, ou em São Paulo, ou em Brasília, que foi onde vi as piores peças infantis. Embalado pela explosão de produções caça-níqueis e besteiróis medíocres que vêm assolando o teatro para adultos, também o teatro infantil vem perdendo contínua e absurdamente a qualidade e o senso crítico e artístico de outrora. Atualmente, o que se vê é a criança exposta, indefesa, diante de tanta mediocridade que lhe é apresentada guela abaixo. É um reflexo do baixíssimo nível da programação televisiva dedicado aos "baixinhos". E, desculpem, mas tenho que voltar aos pais? O que os pais estão achando disso? Será que eles também estão com a cultura embotada e não conseguem distinguir o joio do trigo? Será que não há nada nos estatutos da criança e da adolescência que fale do poder de destruição que este tipo de teatro poda causar na criança e no prazer ou desprezo que ela tenha em assistir uma apresentação teatral? Muitas destas respostas eu não tenho, não sei o que dizer, algumas eu pressinto, e não é nada bom o que eu vislumbro. O teatro infantil, o bom teatro infantil, vem perdendo público ano após ano na proporção direta em que o medíocre teatro comercialóide vem alcançando maior lucratividade. As escolas compram, os pais levam os filhos, as orientadoras dão seu aval, as diretoras assinam embaixo, todos fazem vista grossa e a criança tem que engolir uma pecinha que lhe trata como um debilóide.
M.F.

ADEUS, PINA BAUSCH

Tive oportunidade de estar perto dela. Dizer a oportunidade de conhecê-la, seria um exagero. Eu estava trabalhando como diretor de palco numa das edições do Porto Alegre em Cena em que ela era uma das mega atrações do Festival. Sua peça seria apresentada no Teatro do SESI. A produção do Festival teve que aumentar o palco, pois não tinha a profundidade que Pina achava necessário que tivesse. Primeiro chegou o responsável pela montagem com um batalhão da auxiliares alemães e brasileiros. Depois, chegavam as produtoras e camareiras e todo pessoal que prepara a produção, Checavam cada item. Mais tarde chegavam os bailarinos e preparadores e ensaiadores. Ela era a última pessoa a chegar no teatro. Tinha secretária pessoal e secretária executiva. Tinha até um anotador de erros. Tinha uma estrutura que só alemães conseguem ter. Além dos japoneses, é claro.
Na última apresentação ela mandou reunir todas as pessoas que haviam trabalhado durante a realização do espetáculo e deu um singelo presente e um breve discurso de agradecimento que foi traduzido pela sua intérprete pessoal.
Claro que saber que quem está ali falando, ali na tua frente, ali te olhando nos olhos é a própria Pina Bausch já amplia e deforma totalmente a importância do evento. Dá um peso tanto para o discurso, quanto para o momento. Mas, posso jurar que emanava dela uma energia cálida, uma autoridade imanente, um carinho transcendente. Guardei o momento na minha memória. E também a camiseta pólo preta do Tahztheater Wuppertal - Pina Bausch - Porto Alegre - 2006.