domingo, 20 de dezembro de 2009

BACANTES OITO ANOS DEPOIS


Inflexíveis Ligações, nova peça do Grupo Teatral Bacantes, que completou, em 2009, oito anos de existência. Não é de hoje que conheço alguns dos integrantes do grupo. Antigos participantes da Oficina de Teatro do Parque dos Maias, orientados pelo diretor Marcelo Restori, a quem substitui por um período. Foi assim que conheci a semente daquilo que vem a ser hoje o Grupo Bacantes.
Fortemente influenciados pelo Falos & Stercus e, é claro, pelo Marcelão, o grupo nasceu com o forte intuito de chocar, de balançar as estruturas teatrais, de provocar, de buscar uma originalidade teatralmente agressiva.
"Romeu e Julieta Invertido", "Noites de Sexo e Violência" e "Perversus", são alguns dos títulos de peças anteriores, algumas ainda com a orientação de Marcelo Restori.
Inflexíveis Ligações, esteve em cartaz na SALA 402, da Usina do Gasômetro, atual endereço do Depósito de Teatro, que faz parte do Projeto Usina das Artes.
O espetáculo tem um belo e arriscado trabalho corporal, mas é confuso em sua dramaturgia, que só é compreendida se o espectador ler o programa da peça. O contato dos atores com os espectadores é agressivo e antiquado, lembra produções dos anos 60 e peças antigas do Ói Nóis. Não traz nada de novo e não acrescenta nada ao espetáculo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

DENTROFORA


Imperdível. Liane Venturella (a grande atriz da atualidade) e Nelson Diniz (impecável) dão um show de teatro em DentroFora. Proposta radical para um texto não menos.  Maravilha. Carlos Ramiro Fensterseifer acerta em cheio na direção.
Na foto de Fernando Gomes/ZH estão os dois protagonistas: Liane Venturella e Nelson Diniz.

sábado, 10 de outubro de 2009

ANTICRISTO


Pouquíssimo público na sessão das oito no sábado no Arteplex. O filme é encantador. Impactante pela beleza trágica, pela violência, pela sexualidade, pela natureza. Me parece que fazia algum tempo (alguns filmes) que Trier não ia tão fundo. No fundo do poço da culpa, da vingança, da loucura, da tragédia. Um lodaçal de corpos, de mortos. Um exorcismo.  Cada capítulo é mais surpreendente e maligno que o anterior. Imperdível.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MODESTAS MULHERES


Sobre não deixar passar em branco. Esta maravilhosa criatura da natureza, Brigitte Bardot completa 75 anos. A atriz francesa que mais atiçou a imaginação masculina. Comparável apenas a Marilyn Monroe, sua cópia norte-americana. Belíssima cópia, diga-se de passagem.
M.F.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

QUARTET - POA EM CENA


O XIV Porto Alegre em Cena encerra em gran finale. Não poderia ser melhor. O Espetáculo é um arraso. Simplesmente fiquei em suspenso, extasiado, estupefato. Cada quadro era mais deslumbrante do que o anterior. O teatro elevado a categoria de arte. Bob Wilson realizou uma encenação definitiva para a peça de Heiner Müller.
Quartet é uma adaptação de Heiner Müller do romance As Relações Perigosas de Choderlos de Laclos, escritor francês do século XIV que ganhou notoriedade com a publicação deste livro em forma de correspondência entre pessoas ligadas entre si.
Tudo funciona. Um show de tecnologia bem colocada. Surpreendente. Imagens belíssimas.
Isabelle Huppert está maravilhosa. O elenco é afinadíssimo, ensaiadíssimo.
Pura arte: harmonia, precisão e beleza.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

PRÊMIO BRASKEM - POA EM CENA



Em noite de gala e festa, com todos os indicados bem trajados e prontos para subir ao palco (porque afinal, nunca se sabe qual vai ser o resultado), o grande vencedor foi o espetáculo O Sobrado, que levou o Troféu Braskem oficial e do júri popular na categoria melhor espetáculo. O prêmio de melhor direção ficou com Zé Adão Barbosa, melhor atriz para Araci Esteves e melhor ator para Daniel Colin.
É... premiação é premiação. Concordemos ou não, é dado o resultado e temos que engolir e aplaudir. Escrevi engolir, mas poderia ter escrito aceitar. Como sempre tem gente pensando mal sobre o que escrevo, esclareço que considero resultado de premiação igual a resultado de edital ou concurso: ganhe quem ganhar, o que vale é sempre o resultado que é e não aquele que eu gostaria. Do contrário, eu seria sempre premiado e todos os meus projetos seriam aprovados.
Da comissão que elegeu os vencedores faziam parte Renato Mendonça e Roger Lerina da ZH, Vera Pinto do CP e Hélio Barcellos Jr do JC. Todos reconhecidamente próximos do meio teatral. Calejados espectadores de longa data. Mas, mesmo com todo este currículo, durante o coquetel houveram várias manifestações de surpresa e até de desagrado em relação aos resultados. Posso dizer que até mesmo alguns vencedores não concordaram com prêmios recebidos por outros ganhadores. Então, é como eu digo: é mesmo assim quando se trata de premiações: tem que engolir e aplaudir.

Maravilhoso mesmo foi o pocket show do Nico Nicolaiewski. Cada vez melhor este guri. A sonoridade que extrai do piano, a suavidade da sua voz, a sua veia rockeira, tudo encanta.
Só me resta repetir a frase do Nico: parabéns aos que foram premiados e parabéns, também, aos que não o foram.
M.F.

domingo, 20 de setembro de 2009

VAN GOGH - POA EM CENA

Van Gogh só no gogó: texto, texto, texto. Uma encenação às escuras, sem nenhum realce, que não acrescenta nada. Cenário pobre como aqueles das peças de baixo custo feitas no DAD. O ator, Fernando Dianesi, enfrenta um tour de force e percebe-se que teria as forças necessárias para alcar voô, mas não decola nunca. Se fossemos (tem acento ou não tem? se tiver coloquem com a imaginação, pois ainda estou re-aprendendo o Português pós reforma.) desenhar o um gráfico representando a peça, perceberíamos que o ator traça sucessivas ondas sempre da mesma amplitude dramática. Começa de leve e vai subindo até um acesso de raiva ou de loucura. Depois recomeça tudo outra vez. Como a direção não instiga, não propõe nada além das nuanças e inflexões do texto, pouco acontece e a platéia apenas vislumbra a sombra da loucura de Van Gogh, e passa ao largo do profundo desespero e angústia de viver que o pintor manifestava através de cartas enviadas ao seu irmão Theo, que era o seu grande e fiel patrocinador. Ficamos apenas na reflexão intelectual.
Outra coisa: só porque a peça é em espanhol é dispensado o uso da projeção de legendas. Quando o ator fala "silla roja", por exemplo, no mínimo um terço da platéia não sabe do que se trata. Daí, a peça fica toda entrecortada por palavras que, percebe-se, parte do público não compreende. Distancia o espectador do espetáculo.

RAINHA(S) - POA EM CENA

As Rainhas acabaram apresentando-se no Theatro São Pedro. Georgette Fadel sempre maravilhosa, inteiraça. O prazer com que ela atua é visível. A peça faz aquela conhecida e "moderna" desconstrução à la Enrique Dias em Ensaio.Hamlet e A Gaivota. Quase uma fórmula. Mas o resultado é (novamente) muito bom. As duas estão afinadíssimas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O DRAGÃO - POA EM CENA

Fortíssimo. Corajoso. Emocionante. Impactante. Trágico. O Dragão.
M.F.

CRU, BEM CRU - POA EM CENA

Cru, espetáculo da Cia Teatral Atores Reunidos, de Caxias do Sul, idealizado, dirigido e muitas outras coisas por Raulino Prezzi.
Minha sugestão é colocar novamente no fogo. Tem que cozinhar mais. Está demasiadamente cru pra gente saborear. Dramaturgia fraquíssima, atuação fraquíssima. Atores despreparados para realizarem as tarefas exigidas pelo diretor e pelo espetáculo.
A peça é moralista. Pretende ser provocativa e é cheia de pudor. Amadora e quase adolescente nas suas propostas.
M.F.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

FANDO & LIS - OFF POA EM CENA

Estes dois porcos estão aí, com suas asas fechadas, só porque ainda não consegui uma boa foto da peça pra ilustrar este comentário. Ainda tem mais uma quarta pra assistir Fando & Liz lá no Ocidente, Palco Ox. Aliás, um espaço bem bacana que eu ainda não conhecia. Mas (e crítico sempre tem um "mas"), o pessoal do Ocidente tinha que colocar um equipamento de luz mais moderno e adequado ao lugar. Um lugar diferente, tão bacana, e com uma iluminação tão ruim. Tem que investir. A luz da peça é ruim, tipo: "vamos fazer o melhor com o que se têm".  E o melhor somente seria bom com um equipamento melhor.
A peça me pegou no começo, no primeiro ato. Depois foi me cansando até a exaustão. Racho a conta entre a encenação e o autor. Começo pelo autor. Fernando Arrabal (sim, o mesmo que veio no Fronteiras do Pensamento e se pegou com o Gerald Thomas), é o autor de O Arquiteto e o Imperador da Assíria, A Bicicleta do Condenado e Cemitério de Automóveis. Estas, talvez, sejam as mais famosas. Principalmente a última, depois da celébre montagem do diretor franco-argentino Victor Garcia. Mas, Arrabal possui uma extensa obra poética, cinematográfica e dramatúrgica. Entre as quais, Fando & Lis, escrita em 1955, quando o autor tinha apenas 23 anos, que é, mais ou menos, a idade de Fando, o personagem da peça. Arrisco dizer que Arrabal ainda não tinha o domínio da dramaturgia do absurdo, que veio a adquirir em O Arquiteto e o Imperador da Assíria escrito em 1966, e considerada sua mais importante e significativa e encenada obra. Assim, acho que nesta peça Arrabal comete o pecado da prolixidade e da repetição exaustiva dos mesmos temas. Peca também por tecer um teatro do absurdo muito na casca. Quase óbvio nas imagens que cria e a representação da realidade a que nos remete. Merecia cortes no texto, talvez adaptações. Como isso não foi feito, aí começam os pecados da encenação.
CONTINUA EM BREVE.
M.F.
M.F.

A VIAGEM DE GIACOMINA - POA EM CENA


Assisti a viagem de Giacomina. É mesmo uma viagem. Fragmentos, silêncios e muita viagem. Não sei porquê, não consegui viajar na peça. Giacomina partiu e me deixou ali, sentado assistindo uma peça de teatro de bonecos de pau.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

VOCA PEOPLE

Show de vozes: todos cantam muito e muito bem, o conjunto é afinadíssimo e o som de primeira. Show de performance: uma sucessão de intervenções bem humoradas com o público, elevam o astral da platéia. Tudo é tão up que o espetáculo termina deixando todo mundo muito, muito feliz. Uma coisa Brodway.
Já o repertório nem tanto. Tem um bloco inteiro daquelas chatérrimas músicas americanas, aqueles sucessos internacionais insuportáveis.
Show de luzes: são tantas moving-ligths circulando pelo palco que chega uma hora que a gente cansa de tanto efeito de iluminação. Efeitos vazios, bem entendido.
M.F.
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NELSON RODRIGUES BUARQUE DE HOLLANDA - POA EM CENA

Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, com direção de Zé Henrique de Paula. A direção é limpa, bem marcada e recheada de momentos "teatrais". A inserção de canções criam hiatos e fico pensando qual a real necessidade dramática deste recurso? As muitas canções (11) às vezes nos distanciam da tragédia. Quando cantadas pelo conjunto de vozes do elenco aparecem com força e propriedade. Porém, no solos, nem sempre alcançam o objetivo lírico e/ou dramático.
O coro engraçadinho, homossexual e debochado também atenua os possíveis efeitos trágicos.
M.F.


DOR À LA FRANCESA - POA EM CENA

Achei a primeira parte extremamente chata. Não suporto mais ouvir todo aquele bla-bla-blá europeu sobre a a segunda guerra mundial, sobre os campos de concentração e os seis milhôes de judeus mortos. É assunto por demais batido. Passei a me interessar pela peça quando o Roberto volta pra casa. A encenação vai por aquele viés da leitura dramática. Tipo as últimas experiências do Aderbal Freire Filho e suas quatro horas de leituras encenadas. A atriz é excelente, sutil.
A propósito, os franceses, invadidos na II Guerra, também mataram milhares de pessoas quando ocuparam o norte da África.
M.F.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

AS NOITES DO BARQUEIRO

Numa violenta tempestade um barco vai à pique. Seu comandante consegue alcançar uma ilha e torna-se um naufrago. Da ilha enxerga um farol que se encontra no lugar para onde navegava. Sozinho e prisioneiro na ilha desabitada, o comandante divaga e reflete sobre o destino do homem, sobre o sentido da existência. Caronte. Robinson Crusoé. Tom Hanks.
Texto solo de alta carga poética dirigido pelo autor Samir Yazbek (o mesmo de O Fingidor e A Entrevista), e interpretado por Hélio Cícero, tarimbado ator que com este espetáculo festeja seus 30 anos de carreira. Ambos são oriundos do CPT de Antunes Filho.
Assisti a um ensaio do espetáculo, depois vi a estréia e a seguir, a segunda apresentação. O teatro é mesmo um ser vivo. Impressionante o crescimento da peça de uma ocasião para outra. A performance se alterou sempre para melhor. A integração dos diversos elementos do espetáculo afinou-se um pouco mais.
Na primeira noite os aplausos foram apenas protocolares. Na noite seguinte o silêncio do público era pesado e significativo e os aplausos vieram carregados de calor. A performance de Hélio Cícero foi, na primeira noite, muito técnica, exterior. Na segunda, foi quente, carregada de nuanças e força dramática.
Minhas observações sobre cada uma das apresentações chamam atenção para o fato de que o teatro além de efêmero, é extremamente sensível para se fazer acontecer. O público da segunda apresentação assistiu um espetáculo completamente diferente daquele que foi visto na noite de estréia.
Me chamou atenção o fato de que todos os elementos da peça querem aparecer com igual intensidade. É a procura da harmonia no exagero. São vários os elementos utilizados pelo diretor. Signos em profusão e completa autonomia. Assim, parece que a trilha sonora é tão importante quanto o cenário que é tão importante quanto a luz que é tão importante quanto o texto que é tão importante quanto o ator. O ator interage com praticamente todas as coisas do espetáculo, mas mesmo assim, cada um dos elementos destaca-se por si só. O cenário é muito bonito. Um tanto pret-à-porte, ou seja, serve para muitas peças. A iluminação é um ponto alto do espetáculo, mas está ali sempre presente, sempre extremamente a vista do espectador. A trilha sonora é composta de sons dissonantes, fortes. Os vários adereços que surgem de maneira surpreendente, logo se mostram uma incógnita. Cada um espectador os lê como bem entender e, penso, que muitas vezes o público não alcança os significados possíveis contidos nos adereços.

sábado, 5 de setembro de 2009

O BAIRRO


Na foto, que eu não sei de quem é, estão Marco Antônio Sório e Sérgio Lulkin numa cena da peça O Bairro que eu tive o imenso prazer de assistir neste feriadão teatral que me propus a fazer. Não gosto de soldados marchando, sabia que não viajaria no feriado, só me restava ir ao teatro. Comecei bem com a peça da Ana Paula Zanandréa. O segundo dia, sexta-feira, foi um golaço. Mais uma aula de teatro essencial. Fiquei maravilhado com a sinceridade das interpretações, se é que se pode usar esta palavra "interpretação" para o trabalho apresentado pelo conjunto de atores da peça. Essencial. O texto é tão inteligente que às vezes se repete. Apesar dos vários nomes e personagens a peça poderia ser um monólogo. Mas, acaba sendo melhor fazer um monólogo com cinco atores do que com apenas um. O risco de ficar chato é bem menor. A peça é muito boa. Se voltar, não percam. Um exemplo de excelente teatro.
M.F.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O PAÍS DE HELENA - TEATRO ESSENCIAL

Foi a melhor foto que eu achei. Acho que a foto é do Kiran, porque ele é que anda fotografando a peça desde antes do seu nascimento. Na foto aparecem Elisa Volpatto e Priscilla Colombi. Excelente a direção da Aninha (Ana Paula Zanandréa). Excelentes as atrizes, mas, sem dúvida, a segunda citada é impagável no divertido jogo que propõe à platéia. O primeiro ato é o melhor de todos. O segundo está sem ritmo. E o terceiro, que deve o ser o que menos foi passado, carece de aprofundamento. As atrizes apenas repetem parte do repertório já utilizado.
Assisti a peça em uma de suas apresentações obrigatórias. Era o início do processo. Estava monótono. As atrizes já traziam em si a chama, mas a direção ainda procurava caminhos. Agora é outra coisa. O espetáculo se concretiza. Cria (junto com as atrizes, é claro) uma forte empatia com o público. Tem limpeza e precisão. Saiu boa esta guria.
Espertamente, a Aninha fez um monólogo com duas atrizes. Dividiu o papel único entre as duas intérpretes e escapou dos problemas de encenar um monólogo.
Modesto Fortuna

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

SOBRE A ARTE DO ATOR

O time que aparece aí na foto: à frente Sandra Dani, ao seu lado Sérgio Lulkin, mais atrás da esquerda para a direita: Tatiana Cardoso, Nair D'Agostini e Roberto Oliveira. Pois, estas "lêndias" vivas do teatro gaúcho juntaram-se para conversar sobre a arte do ator, principalmente enfocando a questão o ator e o seu método. Boa conversa. Excelente presença do público. Na platéia, além de uma porção de jovens ávidos pela troca, sentavam celebridades do meio teatral: Nelson Diniz, Márcia do Canto, Claúdia Sachs, Melissa Dornelles, entre outras. O nível da discussão foi elevado: os métodos de atuação, o treinamento do ator, a importância da pesquisa e da experimentação na formação de atores, a importância da formação de atores, foram alguns dos assuntos abordados. Público e integrantes da mesa concordaram que a Coordenação deveria abrir mais espaços para este tipo de conversa: a troca de experiências está fazendo falta na cidade. Ficou anotada pela Coordenação de Artes Cênicas a sugestão de continuidade.

XVI FENTEPP

Como comprova o meu crachá aí em cima, eu estive participando da décima sexta edição do Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente, cidade localizada no oeste do estado de São Paulo. O festival traz aos prudentinos uma amostragem da produção nacional de teatro adulto, infantil e de rua. Trata-se de um festival modesto. Não tem o gigantismo pretensioso do Porto Alegre em Cena. Afinal de contas, apesar de ser em São Paulo, Presidente Prudente é uma cidade interiorana, nitidamente menor do que Porto Alegre.
Mas, o FENTEPP, com a assistência total do SESC, apresenta uma programação que, embora seja de altíssima qualidade artística, fica meio semelhante a do Palco Giratório, evento teatral nacional promovido pela mesma entidade. Nesta edição foram 35 espetáculos originários de vários estados brasileiros. É isso aí.
Valeu, Fentepp.
M.F.

sábado, 4 de julho de 2009

TORTURANDO CRIANÇAS NO TEATRO INFANTIL


O QUE ESTÃO FAZENDO com o teatro infantil? Será que não tem ninguém vendo o que estão fazendo com o teatro infantil? Será que não tem uma arte-educadora, capaz de se indignar com o que está acontecendo com o teatro infantil? Não tem um psicólogo de pré-escola que tenha a ousadia de botar a boca no trombone para reclamar da programação do teatro infantil? Não tem uma diretora inteligente de uma escola moderna, avançada e inteligente que venha de público manifestar-se sobre o baixíssimo nível do teatro infantil. Não tem um pai, uma mãe que não perceba que não é bom expor o filho a certas peças que estão em cartaz e escreva uma carta para um jornal denunciando o fato. Eu coloquei uma enquete neste blog sobre a qualidade do teatro infantil que se anda fazendo em Porto Alegre. Hoje dei uma olhada num site é fiquei pasmo com a programação. Não vi e não gostei. Ainda bem que eu não sou obrigado a assistir nenhum dos espetáculos em cartaz. Me imaginei criança, com meus pais preocupados com minha formação cultural e me levando obrigado ao teatro para ver uma "pecinha infantil". Que tortura não haveria de ser. Para mim e para eles. Quando crescesse, certamente, eu odiaria o teatro. Há alguns anos atrás, Porto Alegre poderia orgulhar-se do nível de seu teatro infantil em relação ao que é praticado, por exemplo, no Rio de Janeiro, ou em São Paulo, ou em Brasília, que foi onde vi as piores peças infantis. Embalado pela explosão de produções caça-níqueis e besteiróis medíocres que vêm assolando o teatro para adultos, também o teatro infantil vem perdendo contínua e absurdamente a qualidade e o senso crítico e artístico de outrora. Atualmente, o que se vê é a criança exposta, indefesa, diante de tanta mediocridade que lhe é apresentada guela abaixo. É um reflexo do baixíssimo nível da programação televisiva dedicado aos "baixinhos". E, desculpem, mas tenho que voltar aos pais? O que os pais estão achando disso? Será que eles também estão com a cultura embotada e não conseguem distinguir o joio do trigo? Será que não há nada nos estatutos da criança e da adolescência que fale do poder de destruição que este tipo de teatro poda causar na criança e no prazer ou desprezo que ela tenha em assistir uma apresentação teatral? Muitas destas respostas eu não tenho, não sei o que dizer, algumas eu pressinto, e não é nada bom o que eu vislumbro. O teatro infantil, o bom teatro infantil, vem perdendo público ano após ano na proporção direta em que o medíocre teatro comercialóide vem alcançando maior lucratividade. As escolas compram, os pais levam os filhos, as orientadoras dão seu aval, as diretoras assinam embaixo, todos fazem vista grossa e a criança tem que engolir uma pecinha que lhe trata como um debilóide.
M.F.

ADEUS, PINA BAUSCH

Tive oportunidade de estar perto dela. Dizer a oportunidade de conhecê-la, seria um exagero. Eu estava trabalhando como diretor de palco numa das edições do Porto Alegre em Cena em que ela era uma das mega atrações do Festival. Sua peça seria apresentada no Teatro do SESI. A produção do Festival teve que aumentar o palco, pois não tinha a profundidade que Pina achava necessário que tivesse. Primeiro chegou o responsável pela montagem com um batalhão da auxiliares alemães e brasileiros. Depois, chegavam as produtoras e camareiras e todo pessoal que prepara a produção, Checavam cada item. Mais tarde chegavam os bailarinos e preparadores e ensaiadores. Ela era a última pessoa a chegar no teatro. Tinha secretária pessoal e secretária executiva. Tinha até um anotador de erros. Tinha uma estrutura que só alemães conseguem ter. Além dos japoneses, é claro.
Na última apresentação ela mandou reunir todas as pessoas que haviam trabalhado durante a realização do espetáculo e deu um singelo presente e um breve discurso de agradecimento que foi traduzido pela sua intérprete pessoal.
Claro que saber que quem está ali falando, ali na tua frente, ali te olhando nos olhos é a própria Pina Bausch já amplia e deforma totalmente a importância do evento. Dá um peso tanto para o discurso, quanto para o momento. Mas, posso jurar que emanava dela uma energia cálida, uma autoridade imanente, um carinho transcendente. Guardei o momento na minha memória. E também a camiseta pólo preta do Tahztheater Wuppertal - Pina Bausch - Porto Alegre - 2006.

terça-feira, 30 de junho de 2009

PORTO ALEGRE TEM LEI DE FOMENTO

Foi aprovada na tarde de ontem pela Câmara dos Vereadores, a Lei de Fomento ao Teatro e a Dança de Porto Alegre. Na foto um dos estopins desta vitória: 06 de setembro de 2005 - DIA DA IMOBILIZAÇÃO DA CULTURA. Os grupos de teatro de Porto Alegre realizaram uma manifestação exigindo que os órgãos culturais municipais, estaduais e federais acordassem ecomeçassem a trabalhar. Um significativo resultado aparece agora. A nossa lei é meio marota. Não é como a Lei de Fomento de São Paulo que quando foi aprovada já tinha um gordo orçamento destinado a execução da lei. A nossa lei tem 100 mil reais. Com este valor não dá pra fomentar coisa alguma. O valor mais modesto aceitável seria 1 milhão de reais. Mas certamente, o teatro e a dança de cidade seriam mesmo fomentados se o orçamento chegasse pelo menos perto de 2 milhões anuais. Aí sim e Lei teria valor e vários grupos, a exemplo de São Paulo, poderiam ser fomentados.
Mas, nossa Lei de Fomento está aprovada. Grande vitória! Graças a articulação política do Caco Coelho e a coesão e determinação dos grupos de teatro da cidade.
FOTO: KIRAN
M.F.

sábado, 27 de junho de 2009

ALGUMAS HORAS COM ARTURO BANDINI



Acabei de ler "Sonhos de Bunker Hill" de John Fante. Este é o terceiro livro dele que leio. Virei fã do cara antes de ler alguma coisa dele. Foi quando soube que Fante influenciou Bukowski. Ele é o precursor da geração beatnik. Só este currículo ja impressiona. Mas depois de ler "Pergunte ao Pó", "1933 Foi um Ano Ruim" e estes "Sonhos..." tenho que tirar o chapéu para John Fante. O cara escreve de um jeito que prende o leitor ao livro. Vivemos as aventuras de Arturo Bandini ao lado dele. Ficamos ricos com ele e com ele perdemos tudo. Arturo Bandini vive intensas aventuras e abissais mudanças na sua vida. E nós com ele. Maravilha. Vou atrás de outros livros dele. E quem ainda não leu deve ler pelo menos "Pergunte ao Pó.

MARLENI - O TEATRO VAI AO CINEMA



Ou será que o cinema que foi ao teatro? Bem, eu fui ao majestoso Teatro do CIEE assistir Marleni, espetáculo assinado por Márcia do Canto e Liliana Sulzbach. No elenco, uma dupla de peso, duas conceituadíssimas atrizes: Ida Celina e Araci Esteves.
Comentar este espetáculo não é nada fácil. A peça me colocou numa sinuca de bico. Passado alguns dias, ainda não sei definir as causas dos meus sentimentos.
A peça é bem dirigida. Tudo é limpo e está perfeitamente no lugar. Vê-se a mão da Márcia do Canto e vê-se o olhar cinematográfico da Liliana Sulzbach. A inserção de imagens são muito bem realizadas. Tecnicamente perfeitas. As atrizes compõe suas personagens com maestria e quase exatidão. Araci Esteves tira de letra. Só fiquei pensando no estado das cordas vocais dela, que usa o tempo inteiro uma voz rascante, áspera e integralmente na garganta. Ida Celina boa como sempre. O cenário do Élcio Rossini é um primor. Tem beleza e harmoniza-se perfeitamente com a peça. Tudo está rigorosamente em seu lugar.
Então, porque a peça não "me pegou"? Porque me distanciei várias vezes do espetáculo? Porque vi pessoas cochilando na platéia? E eu mesmo me peguei com os olhos pesados? Precisava mesmo daqueles microfones? Será que o ritmo da peça é todo meio igual do começo ao fim? O texto que não se universaliza? As atrizes não arriscam um voô mais profundo ou mais alto ou mais louco? Os acontecimentos são previsíveis? É tudo limpo demais? O conflito não se sustenta? Não sei. Não sei definir o que é.
M.F.

sábado, 20 de junho de 2009

O DESVARIO DA TAINAH


DESVARIOs.m. Desregramento do proceder; desatino, loucura, delírio: os desvarios da juventude.Desvario: devaneio, desacerto, loucura, formada pela prefixação de "des" + o radical "vari" + o morfema "ar". Desvario: alienação, alucinação, delírio, demência, desatino, desvairo, insânia, loucura e tresvário

Em primeiro lugar: vão ver que a peça é boa. Na verdade, a peça é muito boa. Tudo o mais que eu escrever adiante jamais poderia diminuir uma vírgula desta montagem que é um acerto, pricipalmente se levarmos em conta o atual panorama do teatro local.
O texto é brilhante. Os cacos são bons. As liberdades com o texto são boas. A marcação é criativa, variada e, por muitas vezes, tão surpreendente quanto o texto. Os atores estão todos muito bem. Pequenos deslizes de texto de uma atriz, mas afinal de contas estamos no segundo dia. Vi a peça e já fiquei com vontade de vê-la novamente depois da trigésima apresentação. Daí é que vai estar boa de verdade. Por enquanto, parece apenas um arremedo do que pode ser esta história de “um homem desorientado, quase desesperado”, conforme ensina o release da peça. A interpretação do casal protagonista terá que elevar-se mais alto se quiserem atingir as notas gravadas no texto, que é simplesmente brilhante. Melhor do que este somente Paul Auster em O Gordo e o Magro vão para o Céu.
A direção de Tainah é segura e limpa. Tem um desenho claro e uma modernidade inerente. Tem gente quer ser moderno, que segue a Cartilha da Encenação Contemporânea. Têm outros que estão sintonizados com o seu tempo e simplesmente são modernos.A peça tem um ranço, tem algumas barrigas e mente quando propõe um jogo com a platéia e não está preparada para cumpri-lo. Ou não quer cumprir. Quando uma regra do jogo não é cumprida o jogo fica sem graça. Se é dado o direito para que o público escolha democraticamente a cena que quer ver, fica implícito que as outras duas alternativas perderam e estão fora do espetáculo. As barrigas estão em certas repetições de cenas e textos. Sim, já entendemos o mote principal. Sim, já entendemos que estamos diante de um texto fragmentado, loucão, pra lá de inteligente. Pra que ficar repetindo? Já o ranço, na minha opinião tem duas causas:
1. A direção não permite que a peça exploda. Amarra-a a uma seriedade excessiva em momentos que não são sérios. Não se decide pela comédia. Fica em cima do muro.
2. O protagonista "desorientado", presentificado por Leandro Lefa, é bom de corpo e em alguns momentos alcança a graça, mas, carece de força, falta presença e nuanças no texto, energia de protagonista. Fiquei torcendo para que o personagem do Lucas Sampaio desse um pau no carinha pra ver se ele ligava todos os motores. O personagem dele é o próprio Pato Donald. Se fode até quando se dá bem. O Leandro é perfeito para o papel. Tem que ver desenho do Pato Donald e explodir na peça.
Desvario recebeu financiamento do Fumproarte. Deve ter recebido a mesma verba mixuruca que todo mundo recebe pra realizar seus projetos. Mas, mesmo esta verba mixuruca, já faz uma enorme diferença no resultado da produção em geral. Alguém da UFRGS que tenha visto o trabalho quando era resultado de um projeto de graduação e revisto agora, devia cobrar da Reitoria da UFRGS, uma posição mais ativa na viabilização de recursos para a produção dos trabalhos finais do DAD. Ou, no mínimo, se coçar para adequar tecnicamente suas salas de espetáculo para que o aluno tivesse reais condições de experimentar ou, simplesmente, realizar seu projeto. Já que a UFRGS capta recursos da Cultura para proteger e recuperar seus prédios históricos, será que ela não poderia captar ou destinar recursos da Cultura para seus teatros?
Parabéns, pra todo mundo.
Vão ver.
M.F.
Na foto de Elisa Viali (ZH) aparecem Lucas Sampaio e Elisa Volpato

sexta-feira, 19 de junho de 2009

PROCURA-SE, UMA COMÉDIA CLARA

“O riso é uma arma de destruição: ele destrói a falsa autoridade e a falsa grandeza daqueles que são submetidos ao escárnio.”
Vlamidir Propp

Fazer teatro é sempre difícil. Fazer comédia, mais ainda. Entender os processos da comicidade e do riso teoricamente até que é bem simples, mas, encarar a prática de fazer rir no palco é muito diferente. Tem àqueles que parecem ter nascido pra isso. E tem aqueles que, para fazer os outros rirem, têm que trabalhar muito e penar.
Pois fui ver Procura-se, uma Comédia trabalho do Atelier de Criação II do DAD/IA/UFRGS, um exercício de comédia com direção de Kalisy Cabeda e atuação de Celso Zanini, Rodrigo Fiatt e Elisa Heidrich.
Com intenção de dar um tom sépia na sua homenagem ao cinema mudo, Kalisy optou por fazer uma comédia escura, e com isso diminui a comicidade. Os atores parecem transitar pouco à vontade pelo âmbito da comédia, mas aparecem bem e tiram excelente partido dos seus tipos físicos e das situações propostas pelas histórias. Todos parecem ter mais bala na agulha do que mostram. Só não sei pra quê ou por causa de quê guardaram-nas. Destacam-se apenas em alguns momentos e mantêm-se coesos durante a maior parte do tempo.
A peça, constituída de três pequenos esquetes cômicos, alterna alguns (poucos) bons momentos de comicidade, com aquele lirismo que é sempre esperado nos trabalhos inspirados nos filmes de Charles Chaplin. O trabalho cresceu bastante desde a apresentação do semestre passado no palquinho do DAD. Os atores estão dominando mais os elementos. A produção melhorou em todos os aspectos. Menos na utilização de pesados praticáveis sem rodas.
Modesto Fortuna.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

PRA NÃO DIZER QUE EU NÃO FALEI DE CORES

Desculpem, mas não resisti ao trocadilho. Assisti, domingo no Teatro Renascença, a mais nova peça infantil do meu grande amigo, o diretor e ator Roberto Oliveira. Como conheço o amigo de longa data, sei que esta peça ja foi encenada em 1982. Tendo sido escrita, também por ele, em 1981. Originalmente, a peça procurava retratar, em tom de brincadeira, cada um de seus antigos parceiros de um antigo grupo do qual o autor fazia parte e que se chamava Depois do Arco-Íris. Outro dia falo quem eram.
A peça tem um mérito: propõem-se a levar arte para as crianças. Não oferece uma diversão fácil, pois exige que o espectador fique atento e participe com sua inteligência do humor proposto pelo espetáculo. Chama atenção que a platéia infantil mantêm-se mesmo em silêncio e com os olhos fixos no espetáculo durante todo o tempo.
O texto mantém-se "moderno". É fragmentado. Apresenta várias histórias que falsamente são interrompidas, pois todas se completam. Por outro lado, é bastante convencional ao se utilizar de uma velha "fórmula" aplicada ao teatro infantil, na qual as cenas são intercaladas com canções. Teatrinho e musiquinha, teatrinho e musiquinha. É convencional também em sua última cena, quando narra a história do personagem que busca a cor-de-colorido. O diretor usa o truque de trocar o ator que vai atrás da cor, mas, fora isso, é uma historinha com começo, meio e fim, como as de sempre.No elenco, demonstram maior dificuldade os atores Fabiano Silveira e Juliano Canal. Os outros quatro atendem com energia, autonomia e desenvoltura as exigências do espetáculo e as propostas corporais do diretor. Cada um deles (Elisa Heidrich, Luiza Pezzi, Lucas Sampaio e Francine Kliemann) aproveitam com eficiência de todos os momentos em que têm uma participação destacada pelo texto. Fabiano Silveira é várias vezes flagrado "olhando" a peça. Em vários momentos demonstra não saber o que fazer ou o quê está fazendo em cena. Juliano Canal, embora esteja entre os mais experientes, tem nítida dificuldade na composição dos personagens, bem como no uso de seu próprio corpo. Mas, tem uma simpatia pessoal que lhe auxilia. É visível, ou melhor, audível que o elenco feminino canta mais afinadamente do que o trio masculino.
As canções e intervenções musicais de Roberto Chedid são boas, de fácil comunicação e memorização, além de adequarem-se as necessidades da peça. Se Fabiano Silveira erra na atuação, acerta em cheio na iluminação. Os figurinos de Ana Fuchs e Ig Borghese são muito bonitos. Seu geometrismo propõe uma fuga do realismo. Os bonecos de Guilherme Luchsinger são vistosos, bonitos e cumprem a sua função. De tudo, dois elementos destoam completamente do todo do espetáculo: a tv e a empanada dos bonecos.
Em seu conjunto a peça é boa e, com certeza, vale à pena como programa de final de semana tanto para os pais quanto para os filhinhos.
A foto é de Modesto Fortuna e aparecem nela: na escada: Lucas Sampaio, Francine Kliemann, Elisa Heidrich e Fabiano Silveira. Na frente: Juliano Canal e Luiza Pezzi.
M.F.

domingo, 14 de junho de 2009

UM BANQUETE DE DISCURSOS



“A educação deve possibilitar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter”.
Platão

E como sempre faço há anos, lá fui eu assistir outra peça do Luciano Alabarse. Desta vez eu saí de casa sabendo que iria passar pelo menos quatro horas na companhia dele. Sempre acho que vale a pena. O Luciano é uma inteligência rara aqui em Porto Alegre. Ele é o único que continua fazendo teatro de quinta a domingo com casa cheia. Ele e todo o chamado teatro comercial. Só que o teatro do Luciano não se trata de comédias superficiais feitas ao gosto da classe média. Ele tornou comercial algo que não é comercial. Teatro para uma classe de alto poder aquisitivo, consumidora de arte e intelectualizada.
Dei uma olhada na platéia do Theatro São Pedro e lembrei do casal Álvaro e Eugênia Moreyra. É, ele mesmo, o Álvaro Moreyra da Sala Álvaro Moreyra do Centro Municipal de Cultura. Pois este casal, em 1927, fundou no Rio de Janeiro, o Grupo Teatro de Brinquedo, composto por membros da alta burguesia, buscando comunicar-se com pessoas de “gosto mais elevado”. Criaram um grupo cercado de respeitabilidade. Bacana. Um teatro feito por ricos e apresentado para ricos. Acho que tem tudo a ver com a proposta do Luciano.
A primeira peça é uma leitura dramática encenada. É a entrada do banquete. Composta de pequenos embates filosóficos, frutas e vinho para aquecer a mente do espectador. Uma entrada leve, meio insossa, temperada apenas por um ou outro golpe de teatro de algum ator mais saidinho. Em geral as interpretações são exageradas ou esperadas, tipo o Marcos Contreras, repetindo a si mesmo. Mesmo Marcelo Adams, sempre um excelente ator, sofre para dar conta da verborragia da peça e tem que despender uma energia extra para que seu gênio brilhe em alguns momentos.
Intervalo.
E é servido o prato principal: O Banquete. Apesar das peripécias e ousadias inventadas pelo diretor, é um banquete meio requentado. A primeira parte aqueceu nossa mente, mas torrou o nosso saco. O nível das interpretações cai sensivelmente. Todo mundo se repete. Sandra Dani é tão boa quanto sempre. Luti Pereira é tão bom quanto sempre. Carlos Cunha e Baldissera, idem. Mas, nenhum deles nos brindam com o que têm de melhor. E com Luiz Paulo Vasconcellos retornamos ao ponto. Aí não há diálogo nem discurso que resista. Continuo gostando mais do Luciano de antes do PoA em Cena.
M.F.
FOTO: JULIO APPEL

terça-feira, 2 de junho de 2009

A DECISÃO - O TEATRO DIDÁTICO DE B. BRECTH

“Os filósofos até então apenas interpretaram o mundo; trata-se agora de transformá-lo.”
Karl Marx

“É que, parece, não existe a possibilidade de modificar o público burguês: quando um homem burguês (e quem não o é?) entra num teatro, de certo modo se despede da vida, esquece o mundo “exterior”, e pede a sua dose de diversão. Brecht dá agora um passo radical: se não dá para mudar o público, invente-se um novo público, e, se nem isso for possível, então, mais simplesmente, cometa-se o crime perfeito e suprima-se até mesmo a idéia de público. E é assim que surgem as peças didáticas. (...) abandona-se aquela diversão perdulária, e fica-se com a seriedade do pedagógico, com o exercício ascético da racionalidade.”
Gerd Bornheim

Anos-luz distante da diversão perdulária, o Grupo Trilho, com muita coragem e determinação, enfrenta bravamente a tarefa de apresentar uma peça que além de antiga é política até a raiz, e, mais do isso, propõem-se a demonstrar a função pedagógica do teatro. Trata-se de “A Decisão”, escrita em 1930, pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht, que, mais ou menos nesta época escreveu outras peças que se inserem na classificação de peças didáticas, tais como “O Vôo de Lindberg” e “Aquele que diz sim”, ambas de 1929.
O Professor Gerd Bornheim, em seu livro Brecht, A Estética do Teatro, observa que “o sucesso de Brecht com as peças didáticas, sobretudo em colégios, era muito grande, o que o encorajava a continuar explorando o rico filão.” Entretanto, o mesmo autor comenta que “A Decisão” já é uma peça muito ligada ao Partido Comunista”, e que a partir desta peça Brecht abandona os colégios e se volta para os sindicatos operários.
Fidelíssimos ao autor, o Grupo Trilho segue à risca suas indicações. Utiliza um recurso estipulado por Brecht: “cada um dos quatro atores deve representar o jovem (o protagonista) numa das quatro cenas principais.”
Inegavelmente a peça dá o seu recado favorável a revolução. Os atores são fiéis a sua missão e se entregam com energia e paixão. Nem todas as interpretações são convincentes. O desnível entre os atores é enorme. A parte musical do espetáculo é executada com prazer e vigor.
Achei que o espetáculo caiu um pouco no final. Tudo parece ser uma repetição do que já foi dito e visto. Não sei se é a peça que cansa ou se me afastei do espetáculo quando Brecht diz que o jovem devia mesmo ter sido morto porque colocara o sentimento à frente da razão, e que por agir de forma impulsiva, passional e romântica comprometia o processo revolucionário e, principalmente, o partido, sendo necessário seu desaparecimento. Aí é demais, né, seu Brecht?

LEI DE FOMENTO À MODA DA CASA

Em novembro de 2008, foi lançado o livro “A Luta dos Grupos Teatrais de São Paulo por Políticas Públicas para a Cultura – Os Cinco Primeiros Anos da Lei de Fomento ao Teatro. Sim, a chamada Lei de Fomento, como é conhecida do norte ao sul do país, está completando cinco anos de prática e de fomento aos grupos de teatro da cidade de São Paulo. O livro conta que tudo começou com o Movimento Arte Contra a Barbárie, iniciado em 1998, e que culminou com a Lei de Fomento ao Teatro promulgada em 2002, e relata as experiências fomentadas e o impacto que a Lei trouxe na diversificação da cena teatral, ao compor uma nova fisionomia para o teatro paulistano.
A Lei de Fomento ao Teatro de São Paulo aprovou uma verba anual de seis milhões de reais. Através do livro ficamos sabendo que de 2002 a 2008, foram realizados 13 editais do Programa, pelos quais 192 projetos de 93 núcleos artísticos da cidade de São Paulo foram selecionados, propiciando condições – não só para a montagem de seus espetáculos – para a manutenção de suas pesquisas estéticas e interventivas.
Pois aqui em Porto Alegre, também um coletivo formado por artistas de teatro ligados ao chamado teatro de grupo, batalha por uma Lei semelhante a prima paulista mais velha e mais rica. O projeto de Lei está tramitando há horas na Câmara dos Vereadores. Já foi arquivada. Já foi ressuscitada. E se encontra atualmente nova em folha, pronta para ser apreciada pelos nobres vereadores.
Sabem quanto a Secretaria Municipal da Cultura destinou a nossa Lei de Fomento?
Cem mil reais. É isso mesmo. Cem mil. Que miséria! Vai fomentar o quê com cem mil? Um grupo? Durante quanto tempo? Seis meses? É ridículo. Inaceitável.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

MERGULHANDO EM TERESA E NO MEU AQUÁRIO

"O teatro quer ser repensado, relançado, retomado. Não podemos nos satisfazer com sua letargia, nem aceitar sua extinção. Cada qual pode inventar os meios desta recuperação, que são incontáveis."
Denis Guénon
Somente uma peça assim pra me trazer de volta ao perigoso mundo da crítica teatral. Deixei para o último final de semana da temporada, mas não para o último dia, e fui ver TERESA E O AQUÁRIO, novo trabalho do diretor João de Ricardo. Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito num sábado. A peça é simplesmente encantadora. Não percebi o tempo passando, embora quando acabou eu achasse que era mesmo chegada a hora de acabar. Precisão, talvez esta seja a palavra. João de Ricardo manobra com precisão cada um dos elementos cênicos. Atores, iluminação, trilha sonora, tudo é tratado com carinho e com a importância devida na constituição do espetáculo. Criatividade, talvez seja a palavra, porque João e com certeza toda a sua afinada equipe (atores, dramaturgo, multimídia, etc) esbanjam na criação de imagens que causam forte impacto sensorial em seus espectadores. Achados maravilhosos. Propostas radicais, ousadia. Ousado, talvez seja a palavra. Ousado. Isso. Achei que era um espetáculo que ousava em tudo e em cada uma de suas propostas. Da utilização de imagens ao trabalho de ação vocal dos atores; da dessacralização destes mesmos atores ao arrojos experimentais da trilha sonora. E viva a ousadia!! Fazia tempo que uma peça não me provocava tanto. No marasmo desértico que anda o nosso teatro, ver a peça do João é como chegar num oasís. A construção dramaturgica de Diones Camargo é raro brilho, principalmente na voz e no corpo dos atores. Lisandro Belotto com um trabalho honestíssimo, entrega total. Irretocável. De Sissi Venturin só me queixo do cabelo sobre o rosto o tempo inteiro como em Andy/Edie. Maravilha. Parabéns a todos pela realização. Este é sem dúvida o melhor trabalho realizado dentro deste concurso do Palco Habitasul. Este é o melhor trabalho realizado pelo João até agora. Não vi Extinção. Mas vi Andi/Edie. E vi a inovadora montagem de A Serpente. A peça fica com a gente, fica na gente. Remexeu o meu aquário de imagens, recordações, situações. Teatro puro.
M.F.

ALZIRA POWER - DE VOLTA AO PASSADO



No último domingo fui ao Theatro São Pedro assistir Cristina Pereira interpretando ALZIRA POWER, peça escrita em 1969 por Antônio Bivar. Foi uma verdadeira viagem ao passado, pois no longinqüo ano de 1977, tive minha estréia como diretor justamente com esta peça. No elenco estavam Júlio Conte e Rosa Maria Lima. Velhos tempos.Antônio Bivar, participante ativo do movimento de contra-cultura dos anos 60 e 70, ganhou um prêmio Molière como autor de "ABRE A JANELA E DEIXA ENTRAR O AR PURO E O SOL DA MANHÃ". Com a grana do prêmio pegou sua mochila e foi pra Londres viver as loucuras da geração paz e amor no auge do movimento hippie, flower power, lsd, che guevara e comunidades psicodélicas. Dramaturgo considerado promissor pela crítica, escreveu uma dezena de peças, quase todas numa linha de contestação ao "estabelishment", das quais, "ALZIRA POWER" é uma das mais conhecidas.A peça, que também atende pelo título de "O Cão Siamês", teve sua estréia em 1969 e conta a história da quarentona e solitária Alzira, que depois de aposentada de seu trabalho nos Correios resolve rebelar-se contra os medíocres parâmetros de uma vidinha classe média, e despeja um pouco de sua agrassividade e toda sua libido quando recebe a visita de Ernesto, simplório vendedor de consórcios de automóveis.A versão apresentada nesta montagem, que fez sua estréia nacional no Theatro São Pedro, é absolutamente fiel ao texto e as indicações quanto ao cenário, trilha sonora, climas e figurinos utilizados. Nada de novo. A direção de Gustavo Paso se restringe a seguir tudo aquilo que é indicado pelo texto, traçando uma marcação limpa e um espetáculo apenas correto.O centro por onde gira o espetáculo é a interpretação segura da experiente atriz Cristina Pereira, que prefere explorar a faceta mais aparente e superficial de Alzira, do que descer mais profudamente pela alma da personagem. O vendedor Ernesto é interpretado por Sidney Sampaio, um ator jovem que, se por um lado, não compromete o espetáculo com sua tênue construção, por outro, em momento algum consegue emplogar o público com as idéias que tenta defender durante a peça. Ernesto é mesmo mais "fraco" do que Alzira. Sidney se comporta exatamente assim diante da verve de Cristina Pereira.Enfim, nada de novo no país Teatro. Quem foi assistir não pode reclamar que perdeu seu dinheiro e seu tempo, e aqueles que não foram também não precisam arrepender-se. Ah! O espetáculo é muitíssimo melhor do que a foto distribuída pela divulgação.
M.F.

A MEGERA BEM DOMADA



Jamais deixaria de assistir A MEGERA DOMADA, não só porque a diretora, Patrícia Fagundes é minha amiga, mas porque admiro e acompanho o trabalho dela desde o início de sua carreira. Suas peças sempre foram certeza de bom teatro. Além disso, outra grande amiga, a atriz Sandra Possani entrou na peça, como protagonista, substituindo Roberta Savian. Então, assisti o espetáculo na penúltima sessão de sua temporada de estréia no Teatro de Câmara, com casa maravilhosamente lotada.
Dizer que Shakespeare dispensa apresentações é um lugar comum que cabe muito bem aqui neste parágrafo onde eu deveria tecer algumas considerações à respeito deste autor tão estudado, encenado e respeitado no mundo inteiro, e de quem o leitor poderá informar-se em inúmeras páginas da internet. Porém, tendo vivido apenas 52 anos e escrito 35 peças teatrais entre as quais pelo menos 4 obras primas da literatura universal, é natural que nem todas sejam incluídas nesta categoria, e apareçam, na minha mortal opinião, como obras menores dentro da magnifíca obra do chamado bardo inglês.
A MEGERA DOMADA, segundo a bíblia shakespeariana escrita por Harold Bloom, é uma de suas primeiras comédias e é "tanto comédia romântica quanto farsa" pois "a rispidez física entre Kate e Petrucchio possui um apelo básico (farsa), mas o humor que caracteriza seu relacionamento é altamente sofisticado" (comédia romântica). A história da peça, que ja foi apresentada sob a forma de tele-novela com o título de O Cravo e a Rosa, é simplíssima: um pai, Batista decide que a filha mais jovem, Bianca, só casará depois que a filha mais velha, a megera intratável Catarina seja desposada. Petrúcio, um nobre falido, acaba aceitando a mão de Catarina e todas as encrencas que virão junto. Um novelão bem ao gosto burguês (da época e atual)recheado de trocas de identidade, mentiras inverossímeis e duelos verbais espirituosos à moda parisiense, tão afiados quanto anacrônicos.
A encenação é moderna e até mesmo glamourosa, com os atores comportando-se com uma certa displicência naturalmente ensaiada. Penso que Antonio Rabadan se sai melhor com a criação dos figurinos deste espetáculo do que com aqueles que foram criados para o espetáculo anterior, apesar de que é um tanto batida a opção (não sei se dele ou da diretora) de trabalhar com preto, cinza, branco e vermelho. De qualquer maneira, os figurinos são adequados, bonitos e bem acabados. O cenário, ou melhor a ambientação cenográfica, assinada por Paloma Hernandez, se não se destaca, também não atrapalha, servindo as necessidades exigidas pelo espetáculo e auxiliando-o com sua leveza e mobilidade. EduardoKraemer, um dos meus iluminadores favoritos por sua inventividade, se mostra discreto e também a serviço do espetáculo, sem oferecer aquele brilho que ja vi em outras ocasiões.
Esta é a terceira incursão da diretora Patrícia Fagundes pela obra de Shakespeare, já que anteriomente encenou Macbeth, com o subtítulo de Herói-Bandido, depois O Sonho de uma Noite de Verão, e agora coloca em cena esta versão de A Megera Domada. As três montagens buscam recuperar o apelo popular que as obras gozavam na época elisabetana, bem como uma linguagem contemporânea para atingir o espectador moderno. Acho que a busca continua e que o adjetivo "popular" poderia ser analisado à fundo e definido com precisão, assim como a linguagem contemporânea, que não deve ser apenas, tenho certeza, inserir uma canção moderna, mencionar o furacão Catrina e acrescentar alguns cacos ou gírias modernas ao texto. Sem dúvida, a direção de Patrícia Fagundes sobre o espetáculo é firme e bem orientada no sentido de extrair uma teatralidade e uma comunicação viva do espetáculo com a platéia. No entanto, parece seguir (o que aliás, está muito na moda) uma receita, uma fórmula, ja inventada para o espetáculo anterior: a boate no "Sonho..." e a casa de shows, neste.
O elenco, que brilhava e cativava os espectadores no "Sonho...", agora apenas executa com presteza as marcações e determinações cênicas. Todos estão bem, mas o único que brilha e ganha a platéia é Felipe de Paula, que utiliza o corpo, a voz e inventa outros recursos para extrair gargalhadas do público. Explora com eficiência criativa as nuances de seu papel. A turma que arrasava no sonho: Álvaro Vilaverde, Lisandro Belotto (que tinha uma cena impagável) e Leonardo Machado estão apenas desempenhando aquilo que sabem como bons atores que são. No mesmo caso se encontram Carlos Mödinger e Rafael Guerra. A bela Elisa Volpatto está apenas bela e não tira maiores partidos de sua personagem, contentando-se em ser apenas a "mocinha". Heinz Limaverde aparece desconfortável e é o mais displicente em cena, não atingindo nem de perto sua performance da peça anterior, tampouco aquilo que se espera ao ver seu nome na ficha técnica, pois trata-se de um dos melhores atores que conheço, com seu talento ja testado e comprovado em uma gama variadíssima de espetáculos. Sandra Possani, ainda preocupada com as marcas e textos, vai demorar mais algumas apresentações para mostrar seu inegável talento.
O resultado é um espetáculo bonito, agradável, que não empolga em momento algum. Não decola. É, certamente ágil, divertido e comunicativo, mas não atinge a potencialidade cômica do texto, que aliás, é pronunciado pelos atores, salvo raras exceções, de cabo a rabo, com excessiva velocidade. Enfim, tanto por seu conteúdo, quanto por sua forma atraente e glamourosa, é uma peça destinada ao sucesso.
M.F.

FIM DE JOGO

Meu querido professor Luiz Paulo Vasconcellos assina a direção do espetáculo "FIM DE JOGO", de Samuel Beckett, com a presença de Zé Adão Barbosa à frente de um jovem elenco. A montagem estreou em junho de 2007 inaugurando a Sala de Apresentações do Tepa (Teatro Escola de Porto Alegre).O diretor é figura carimbada na história do teatro portoalegrense, professor universitário, duas vezes coordenador de artes cênicas, autor de um dicionário de teatro e dono de um extenso currículo como diretor e ator. Conheci-o pelos idos de 1976 quando foi meu professor e tive oportunidade de assistir vários de seus trabalhos desde aquela época. Na encenação deste "jogo" beckttiano me parece que o Prof. Luiz Paulo, não quis arriscar um milímetro das suas fichas. Construiu uma montagem esquemática, quadradinha, eficiente, comunicativa seguindo fielmente as rubricas e indicações do autor. É quase um manual para se entender Beckett. É uma peça bem feita, com tudo no seu lugar, orientada por quem entende do riscado, por alguém que conhece a carpintaria teatral mas prefere ficar na comodidade careta do que procurar novos sentidos e possibilidades. Para quem, assistiu a inesquecível montagem da Terreira da Tribo, com a hors concours Arlete Cunha no papel Hamm e Paulo Flôres vivendo Clov, ou a montagem de Rubens Rusche que esteve na terceira edição do PoA em Cena, em 1996, ou ainda, a belo ambiente criado para a encenação de Gerald Thomas, esta atual versão da peça nada acrescenta. Aliás, só não deixa a desejar, pela interpretação irretocável do excelente ator Zé Adão Barbosa. Com certeza auxiliado pela talentosa atriz Sandra Dani e pela caracterização precisa criada por Nikki, um verdadeiro mago da maquiagem, Zé consegue em pequenos detalhes de voz e expressão nos comunicar a dimensão da amargura, tédio, ressentimento e inutilidade da vida, contida nesta que é uma das peças mais conhecidas de Samuel Beckett. Um agradabilíssimo prazer assistir a suave entrega de Zé Adão Barbosa em cena. Jeffie Lopes, um pouco pela sua juventude, outro tanto por sua ansiedade e excesso de tensão, tem dificuldade em transmitir o drama vivido por Clov. Não comunica a dimensão humana da personagem. Já os pais de Hamm, Crissiani Sgarbi e Vinicius Meneguzzi, se beneficiam da caracterização e aparecem bem em seus latões. O cenário criado pelo diretor e por Jeffie Lopes imita a peça e segue as determinações e exigências do autor, tornando-se apenas um arremedo do que poderia ser o ambiente que abriga o embate entre Hamm e Clov. Peca na altura, como aliás a maioria dos cenários das peças de Porto Alegre. E, peca na cor, que, como disse uma amiga minha, é "cor de cocô". A iluminação do criativo Eduardo Kraemer é bonita e eficiente. Todos estão de parabéns pela realização. Um espetáculo sólido, honestíssimo, que conta com a interpretação poderosa de Zé Adão Barbosa e a mão segura do Prof. Luiz Paulo. Parabéns ao Tepa pela iniciativa de produzir um espetáculo e inaugurar sua Sala de apresentações.

E LÁ SE VAI MAIS UM PORTO VERÃO



Iniciado em 07 de janeiro, encerrou bem no finzinho de fevereiro, mais uma edição do Porto Verão Alegre, a nona edição desta engenhosa idéia do trio Rogério Beretta, Flávio Bicca e Zé Victor Castiel, que enxergaram uma modificação dos hábitos de verão dos portoalegrenses e vislumbraram um nicho de público para o teatro nos meses de janeiro e fevereiro. Assim, esta é a nona edição do evento que organiza e coordena uma mega programação cada vez mais inchada e recheada de trabalhos, no mínimo, de gosto duvidoso. Se por um lado, foi uma sacada genial que, inegavelmente, contribui com a movimentação teatral no período de verão, por outro podemos nos perguntar se a extensa programação não compromete a eficácia da ação.Convenhamos que 0 público tem dar sorte para encontrar, no meio de tanta coisa ruim, as poucas boas atrações da programação. Ou então, ele, o público, é um pouquinho mais informado e compra ingressos daqueles espetáculos que ele, o público, mais conhece e/ou ouviu falar. Corre-se o risco de assitir algo que faça o vivente nunca mais querer pisar num teatro ou, por outra, nunca assistir nada diferente do que os "grandes sucessos".Talvez, a contribuição fosse maior, se o Porto Verão Alegre se concentrasse mais na qualidade e menos na quantidade.
M.F.

O VERDADEIRO LOUCO DA RUA DA LADEIRA



Fui ao Teatro do SESC assistir "DIÁLOGOS DE UM LOUCO" para me reencontrar com dois velhos conhecidos: Qorpo Santo, o autor, que me foi apresentado por si mesmo através de suas peças, poesias e textos auto biográficos; e Marcos Barreto, diretor e ator santamariense que aterrizou em Porto Alegre nos idos de 1989. Qorpo Santo conheci ao encenar, em 2005, o espetáculo QURIOZAS QOMÉDIAS, onde reuni várias de suas peças, misturando-as com fatos reais e inventados sobre sua vida a a partir das coisas que ele escreveu sobre si mesmo. Já Marcos Barreto foi meu professor numa oficina de interpretação (no tempo que acontecia ensaios e oficinas de teatro no Auditório Araújo Viana) que ele orientou logo que chegou à cidade trazendo na bagagem e no currículo o aval de ser ex-integrante da Cia. Ópera Seca e ter trabalhado com o super diretor Gerald Thomas. Barreto colocou em cena um memorável espetáculo chamado "LOVEMENBER", no qual assinava o texto, o roteiro e a direção. Mais tarde foi coordenador de descentralização da cultura e diretor da mais complicada edição do Porto Alegre em Cena que ja se viu. Mais recentemente passou a residir no Rio de Janeiro, que foi onde estreou o trabalho apresentado no Teatro do Sesc.Não tenho como separar emocionalmente o que sinto ao ver uma peça de Qorpo Santo depois do mergulho vertical que fizemos na obra e na vida dele para produzir o espetáculo. Sob este aspecto, não gostei do tratamento que o espetáculo dispensa a Joaquim José de Campos Leão, nem do tom da interpretação que Marcos Barreto para os diversos personagens, pois são superficiais e reproduzem o mesmo pensamento retrógrado que via Qorpo Santo meramente como um louco ou no máximo como um simples personagem bizarro, um "esquisitão", como era chamado pelos seus contemporâneos, ou "o louco manso da Rua da Ladeira" pinçado de uma crônica daquela época e republicada no livro de crônicas "AS AMARGAS, NÃO..." do nosso Álvaro Moreyra. Difícil escrever sobre. Parece que vemos dois QS completamente diferentes. É claro, que entendo que isso é possível, pois se o próprio QS se via e se colocava nas peças como sendo vários, múltiplos de si mesmo, então, é claro que as visões tem que ser diferentes, mas é patente a superficialidade do espetáculo, são patentes as derrapadas e esquecimentos de texto do intérprete que consegue graças ao carisma pessoal extrair algumas risadas da platéia. Achei a dramaturgia de Paulo Bauler fraca na forma e no conteúdo. Achei a proposta cênica e a direção bastante frouxas como convém ao ator que se autodirige e ao diretor que orienta a si mesmo. Faltou uma direção mais firme e exigente com relação aos maneirismos e facilidades do interpréte e que, principalmente, cobrasse que Marcos Barreto tivesse, pelo menos, fôlego para atravesar o espetáculo. Enfim, pra mim, o espetáculo não traduz a atmosfera de uma poética tão feroz e enlouquecida quanto a de Qorpo Santo. O espetáculo da maneira como se apresenta não oferece para o espectador moderno o ser torturado e excitado ao extremo que vivia numa Porto Alegre em formação, que tinha, em 1860, quando ele era adulto, uma população de 13.000 pessoas, das quais menos de um quinto sabiam ler e escrever, uma Porto Alegre com escravos construindo o Mercado Público e a classe rica fazendo doações para a construção do Theatro São Pedro. Os personagens são apresentados por Barreto de forma displicente e debochada, que, de maneira nehuma, passam para o público a dimensão humana de cada um deles. Não aparece o Qorpo Santo erotômano, o Qorpo Santo que fez tremer os tabus da época, que clamava pelo divórcio, pregava a liberdade feminina, e escreveu 17 peças de teatro em menos de um mês e meio e foi interditado pela mulher, e criou seu próprio jornal e imprimiu, e publicou sua própria obra.
M.F.

domingo, 17 de maio de 2009

NOSSA SENHORA DOS AFOGADOS

Tive um domingo teatral: à tarde fui ao teatro infantil e me diverti vendo Píppi MeiaLonga, e à noite fui assistir o novo trabalho do Núcleo de Formação de Atores do Depósito, o espetáculo Nossa Senhora dos Afogados livremente inspirado na Senhora dos Afogados de Nelson Rodrigues, com direção de Plínio Marcos Rodrigues, cenário de Rudinei Morales, figurinos de Chico de Los Santos e atuação de um grupo de jovens atores, alunos de um curso que pretende ser um Nível II, já que congrega iniciantes com alguma experiência anterior. Levando em consideração que esta é a primeira direção assinada por Plínio Marcos, posso dizer que ele está no lucro. Realiza um espetáculo com uma concepção clara, baseada na simplicidade, com poucos recursos mas recheada de bons signos teatrais. Fiel as rubricas de Nelson Rodrigues, Plínio cria (ou pretende criar) climas e clímaxes nas cenas e lida razoavelmente bem com a presença do coro que às vezes atrapalha ou interrompe o desonrolar da ação dramática capturando a atenção do espectador em momentos indevidos. Por outro lado, Plínio demonstra dificuldade nas costuras entre as cenas, na limpeza do trabalho de entradas e saídas, na determinação sobre em que momentos o coro deve aparecer e no desenho de um ritmo específico para cada cena e para a peça como um todo.O cenário de Rudinei Morales, carece de arte, de finalização. Apesar do espaço do Depósito de Teatro ainda se mostrar como um espaço precário, apesar de conhecer o tamanho do orçamento destinado para a montagem, penso que, se por um lado o cenário tem limpeza e equilíbrio, simplicidade e eficiência, por outro, demonstra descuido com a necessidade de beleza plástica e com a idéia de finalização. Chico de Los Santos foi feliz na escolha dos tons de cores que utilizou na composição do figurino e consegue um bom resultado no conjunto. Mas é no elenco que residem as maiores dificuldades do espetáculo. Minha experiência diz que é sempre melhor misturar jovens talentos com atores mais experimentados, porque desta maneira a tendência é elevar os resultados na área da interpretação. Numa oficina isso raramente vai acontecer. Todos estão no mesmo nível de saber ou de dificuldades para colocar em prática o conhecimento adquirido em oficinas anteriores ou na única peça que realizaram. Assim, descontando a parcela de 50% que sempre cabe as exigências da direção e a interação e comunicação entre diretor e elenco, senti que, embora todos os interprétes tivessem condição de ir mais longe, todos preferiram nadar perto da praia ao ivés de arriscarem-se na arrebentação. Nelson Rodrigues escreveu uma tragédia para vários protagonistas. Tanto pode ser a história vivida pelo pai de família e quase ministro Misael, interpretado por Rui Koetz (que baseou seu personagem na potente voz que brota de sua garganta e não de seu coração, e não rasga sua alma, não se enlemeia na profunda tragédia que a vida trama para o seu personagem, a insuportabilidade de conviver consigo próprio ao cometer um assassinato), mas também pode ser que o protagonista seja o noivo, encarnado por Ricardo Zigomático (que entra bem e vai perdendo a força porque sua interpretação é um tanto exterior e esteriotipada, um tanto insegura, necessitando aprofundar um conjunto de imagens para completar sua visão da personagem e então, permitir que ele possa reproduzir a força da vigança, o filho que vem para vingar a morte da mãe da maneira mais cruel que se possa imaginar). Ou quem sabe a protagonista é a mocinha, a noiva Moema, interpretada por Camila Martins, que, assim como Rossendo Rodrigues e Viviane Falkembach trabalham demasiadamente no mesmo registro do trabalho anterior "ÓPERA DOS MENDIGOS". Também o torturado filho da família, Paulo, vivido por Diego Bittencourt, poderia ser o protagonista da história, ja que esta personagem tem sua história revelada pela peça. Mas Diego atua sempre na mesma nota, tem dificuldades com a pronúncia das palavras, e vai do começo ao fim da peça sofrendo e usando a mesma máscara facial contraída que pouco revela sobre a alma de sua personagem. Kelly Cruz, Daniela Ferraz e Valesca Maffei, sendo que esta última é cria do Depósito, tendo atuado em "O ÚLTIMO CARRO", revesam-se na interpretação da mãe, Dona Eduarda e não atingem grandes vôos, ficando aquém daquilo que poderiam ter rendido e não alcançam a dimensão trágica solicitada pelo papel. Tatiana Moraes teve um momento de crescimento durante os ensaios mas acomodou-se e mostra uma vó louca com pouquíssima loucura e uma certa pressa em soltar o texto. Finalmente, Núbia Quintana, que foi quem criou as máscaras, não se apresenta com força e energia em cena, mas mesmo assim tira algum proveito quando na pele da dona do prostíbulo onde acontece o ato final. Por falar nas máscaras, acho que Nübia realizou um belo trabalho, mas optou por máscaras leves quase engraçadas, que não trazem em si o peso da tragédia vivida pela família de Misael. O espetáculo é curto, mas mesmo assim não se comunica integralmente com a platéia. E, embora a tragédia não aconteça, tem a força do texto rodrigueano e uma concepção bem delineada que o coloca acima de muitos trabalhos que se vê por aí afora. Parabéns ao Plínio. Parabéns ao elenco e a equipe.
M.F.

PÍPPI MEIA LONGA

Vou tentar ser bem direto em meu comentário sobre Píppi Meialonga que, cheio de curiosidade, fui assistir, temeroso por estar encarando mais uma peça do nosso combalido teatro infantil. A peça tem direção da minha querida amiga (na verdade, a gente apenas se cumprimenta, mas acho ela uma querida amiga) Moira Stein. A peça é longa e vai perdendo o interesse em seu terço final, sinal de que o(a) adaptador(a), cujo nome não aparece na ficha técnica, não soube ou ficou com pena de cortar acontecimentos para dinamizar a montagem, ou realmente prefiriu manter com este tamanho mesmo.O grande problema ou questão reside no fato do espetáculo, na minha opinião, não ser fiel a autora. É fiel no conteúdo, ao tamanho do texto quando coloca toda a história do livro dentro do espetáculo e, assim, não frustra a expectativa das crianças. Talvez, seja fiel na forma, ao manter basicamente o cenário que as crianças esperam. Mas não é fiel na essência, na substância... O uso e abuso de personagens tipificados e até certo ponto babacas, a transformação do texto em uma historinha sonsa, a concepção linear e a dinâmica que a diretora imprime ao espetáculo, os figurinos "bem coloridos" e aquele ar de teatro infantil comportado, enfim, a falta de ousadia parece ir contra o âmago da história criada por Astrid Lindgren, que coloca em cena uma menina que faz suas próprias roupas, tem como companheiros um cavalo e um macaco, é destemida a ponto de bater em meninos como a Mônica do Maurício de Souza, enfrenta policiais e recusa-se ir para um lar de crianças, é uma menina que realiza sonhos de liberdade e aventura e além de tudo é feliz. Moira Stein, concebe um espetáculo convencional, baseado em personagens convencionais para apresentar uma menina que pode ser tudo, menos convencional.Se, por um lado, Tatiana Paganella (que ja vi atuando sob direção de Néstor Monastério em "A VIDA MUDA, cria uma personagem crível, por outro, interpreta completamente sem o brilho e a energia solicitados pela personagem de Astrid Lindgren. Juliano Straliotto e Ágata Baú, ex alunos do Depósito e formados pelo DAD, criaram para suas personagens (certamente com a permissão da diretora) duas personalidades absolutamente esteriotipadas, ja que fingem-se de crianças o tempo todo e transformam os irmãos Tom e Aninha, únicos amigos de Píppi Meialonga, em uma dupla sem graça. As outras personagens seguem e mesma linha conseguindo produzir um esteriótipo ainda pior. Todos executam "tipos", rascunhos de personagens. Menos um. Meu amigo pessoal, Herlon Höltz é uma grata surpresa. Aparece muito bem, principalmente na personalidade que cria para o Ladrão Tonerre. É muito boa e crível a maneira com que Tonerre se desloca pela cena. Corpo, voz e espírito dão credibilidade à personagem. Ponto para o Herlon. Pra mim, ele dá o tom do que poderia ser o espetáculo. Ora, como vamos acreditar na história de uma menina de nove anos que mora sozinha e tem um pai pirata, se não houver um pouco de loucura na forma, na concecpção e nas personagens? Eu não acredito. Píppy MeiaLonga, a peça, está indicada em algumas categorias do Troféu Tibicuera, premiação oficial da nossa Prefeitura para o teatro infantil local. Então, apesar de perceber várias qualidades no espetáculo, apesar de enxergar a honestidade da proposta de Moira Stein, sou obrigado a pensar no rumo que está tomando o teatro infantil produzido aqui e clamar: onde foram parar a criatividade, a inventividade e a ousadia? Que saudade das montagens infantis do Dilmar Messias, do Luis Henrique Palese, da Irene Brietzke. Onde estão os atores mais experientes que sumiram da peças infantis? Quais as causas do empobrecimento do nosso teatro infantil?
M.F.

TALENTOS BRUTOS



Hoje à tarde fui ao teatrinho do DAD, assistir "O Balcão", clássico de Jean Genet apresentado numa montagem de final de semestre, dirigida por Ana Paula Zanandréa, aluna do Atelier de Criação II, e interpretada por um grupo de alunas + Douglas Carvalho, todos do Atelier de Composição II.Quando se fala em O Balcão eu lembro, direto, da célebre montagem realizada pela atriz e produtora luso-brasileira Ruth Escobar, dirigida como um extenso ritual por Vitor Garcia. Memorável por diversos motivos, tais como exigir a remodelação total do prédio do teatro onde a encenação foi apresentada, ou o fato de Jean Genet ter vindo ao Brasil para assistir a peça e ter odiado o espetáculo, ameaçando retirar-se no meio da apresentação de estréia. Recordo, também que houve, aqui em Porto Alegre, uma montagem dirigida por Luciano Alabarse. E, lembro, é claro de quem é o autor e sua história e suas outras peças, como As Criadas, Os Biombos e Os Negros. Pode se dizer que O Balcão é um texto difícil, até mesmo complexo, que bem retrata o tortuoso e atormentado pensamento do autor que quer provocar um choque sensorial tão insólito, quanto belo. A encenação de Ana Paula, que mantém a pobreza habitual de recursos das montagens dadianas, e isso não é uma crítica a ela, é pra lá de debochada, um tanto confusa e vai perdendo o ritmo no final. Tem cenas bem ensaiadas e "limpas" alternadas com cenas "sujas" e apenas rascunhadas. Ana Paula faz a sua leitura sobre o texto. Apropria-se das idéias que Genet coloca no texto e vomita o seu (dela) próprio Balcão colocando em cena boas idéias que se perdem ou apenas se esboçam. Mais uma peça que tem coreografias. E mais uma vez a coreografia acaba sendo melhor do que o teatro. Talvez por ser mais precisa e por comunicar coisas que os atores não conseguem comunicar. O temível no teatro é a hora do texto. A hora que o ator fala. Sinto que é um momento crucial, na maioria das vezes mal resolvido pelas equipes. Por falar em elenco, deu pra ver que na falta de atores do sexo masculino na turma, Ana Paula teve que realizar a peça com um elenco maciçamente feminino. Mais atrizes para a cena gaúcha. Bastante energia descontrolada, muita gritaria. Todo mundo segurando o espetáculo e o personagem na voz. É bom ver todos experimentando-se, exercendo o fazer teatral. Fato curioso: mais uma vez, em menos de uma semana, percebo o cabelo do ator dividindo a performance com o próprio ator. Desta vez o combate se dá entre Vanessa Silveira e seu maravilhoso cabelão. Atriz bela em cena, com uma boa energia e desenvoltura é atrapalhada cruelmente pelo cabelo. A menina que interpreta o chefe de polícia consegue ainda que de maneira tôsca e uniforme, uma boa resposta da platéia. Dá pra se dizer que ela joga com o público. A Rainha, Elisa Volpato, devia aproveitar a sua altura com altivez ao invés de curvar-se como o faz diversas vezes, tem uma voz boa, às vezes corre com o texto, às vezes fica interpretando reações esteriotipadas enquanto escuta. O elenco tem, de maneira geral, uma boa energia, uma total dedicação, um gestual pobre, com ambas as mãos e braços executando o mesmo gesto. Como destaquei no título, trata-se, tanto na direção quanto no elenco, de talentos brutos. Todas (+ Shantal) ainda terão mais um ou dois semestres para desenvolverem suas habilidades teatrais, e então, é certo, vão surgir os diamantes.
M.F.