sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

I DANIEL BLAKE


Ainda bem que a gente tem o Guion Center que oferece uma programação de cinema de qualidade. Ou melhor, de profundidade. 
Ontem foi noite de ver Ken Loach. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, 2016.
Daniel Blake encontra-se afastado do trabalho por causa de um ataque no coração. Os médicos proíbem-no de trabalhar durante o período de recuperação que deve ser dedicado apenas aos exercícios fisioterápicos. Porém, o pessoal do serviço social entende que ele está apto para trabalhar e quem portanto, não deve mais receber o auxílio doença. A sugestão é que ele peça o auxílio desemprego. Mas, para isso tem que procurar trabalho. Mas, ele não pode trabalhar. Cria-se um emaranhado impossível de desatar, bem ao gosto das autarquias burocráticas. 
Ken Loach mostra outro lado da rica Inglaterra. Os desempregados. Os famintos. Os desajustados. Mostra o embate inglório contra a burocracia e seu exército de burocratas que tratam as pessoas como se fossem números, casos, coisas. Extrapola a Inglaterra e universaliza o tema discutido. No mundo inteiro existem legiões de necessitados que vivem a mesma situação de Daniel Blake.
Me senti tocado. Mais pelas interpretações e pelo tema do que pelo filme como um todo. Por um lado é bom, pois o filme nunca apela para um sentimentalismo barato. Mas, por outro lado, comete um grave pecado: seu ritmo se mantém inalterado cena após cena. Vai criando uma certa monotonia. Uma certa distância.  
   

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A ÚLTIMA LIÇÃO


Enquanto não recomeça e programação teatral da cidade, aproveito para ir ao cinema. No seu aniversário de 92 anos, Madi, abre um espaço pra falar com a família e conta seu projeto de "partir" em algumas semanas enquanto ainda tem força. Revelação dura de engolir para o casal de filhos. Enquanto eles têm a expectativa de ver a mãe envelhecer, Madi acredita que já envelheceu demais e que se não tomar uma atitude agora talvez não tenha energia para por fim a sua vida. 
A partir dessa situação vemos a filha aos poucos compreender e apoiar a decisão da mãe, e, ao contrário, o filho apegar-se a ideia pre-concebida de que a mãe deveria seguir o curso da vida até o final.
O filme tem alta carga dramática e exala sensibilidade, tanto no roteiro, na leveza das imagens e nas excelentes interpretações. Mesmo colocando um assunto "pesado", o diretor imprime uma dinâmica de cortes e cenas que mantém o espectador dentro da narrativa o tempo inteiro.
Uma verdadeira aula de vida e de dignidade humana. Um tema, certamente, polêmico. Mas, se pensarmos no crescimento da população mundial de idosos, veremos que a discussão procede. Em breve, os idosos atingirão a marca de 50% do total de habitantes do planeta, e haverá uma aumento crescente daqueles indivíduos que escolherão o seu momento de morrer. Não como um suicídio precoce, mas como uma saída digna num ponto da vida no qual o leque alternativas fica em viver com os filhos, mudar-se para um asilo ou, a pior das hipóteses, morrer num hospital. Todas as alternativas são terríveis. O filme provoca várias reflexões e encontra eco em muitos sentimentos que trago comigo. E olha que eu tenho apenas 62 anos, enquanto a personagem (Madi) já carrega o peso de 92 anos de vida.