terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

DOZE ANOS NA PRIMEIRA FILA

Leitura fundamental para quem faz teatro desde o final dos anos 70 até 1992, o livro "DOZE ANOS NA PRIMEIRA FILA" escrito pelo então crítico teatral do Segundo Caderno da Zero Hora, o ilustre senhor CLAÚDIO HEEMANN, que tive a feliz oportunidade de conhecer, e passar do ódio irracional e incontrolável à simpatia e daí a estima sincera. O livro contem uma coleção de críticas selecionadas por ele mesmo dentro das que escreveu neste período: abril de 1978, quando "o meu relacionamento com o teatro sofreu uma alteração significativa. Recebi convite para ser crítico teatral do jornal Zero Hora.", até a data em que foi despedido da função pela mesma Zero Hora, um dos muitos braços jornalísticos do ilustre e poderosíssimo Grupo RBS.
Acredito eu, que isto aconteceu quando houve uma grande reformulação que sacudiu o jornal e a demissão do crítico não foi a primeira, nem a última. O jornal inteiro passou por uma reforma, modernizou-se, tornou seu alcance mais nacional e um pouco menos voltado para as coisas locais. Mas isso ja é assunto para outra conversa.
Considero como minha primeira peça, para efeito de currículo e realização, o espetáculo "QUANDO AS MÁQUINAS PARAM" (de Plínio Marcos, com direção de Paulo Flores) que foi encenada em 1976. Em 1978, quando Cláudio Heemann começou a escrever na Zero Hora eu estava dando os primeiros passos naquele novo terreno. Então era natural que eu sofresse algumas críticas mais duras, mas estas críticas não aparecem no livro, ou pelo menos não são a tônica do material escolhido com habilidade, argúcia e inteligência que sempre foram características da personalidade exterior exercida no papel de crítico por Claúdio Hemann. Sua figura alta, seu cavanhaque "naturalmente" bem aparado e torto, seu inseparável casaco, paletó ou jaqueta, tudo em sua pessoa rescendia a dignidade e sapiência. Provavelmente ele lia os escritos demolidores da super crítica norte-americana Pauline Kael (depois veremos se o nome está certo). Com certeza, era discípulo de Barbara Heliodora. No livro, nos deparamos tanto com a face do crítico mordaz, quanto a do crítico temível e temido, cuja opinião poderia alterar significativamente a bilheteria do teatro e, mais ainda, sujeitar a opinião das pessoas, influenciando no poderoso boca à boca. Mais ainda, aparece no livro sua maneira objetiva e precisa ao tratar do espetáculo em suas diversas áreas.
Lembro que suas críticas eram dissecadas pelos elencos pelos quais passei. Se ele falava bem de nossa peça sempre acertava em cheio em sua opinião, caso contrário, tivesse ele o topete de falar mal do nosso suado e honestíssimo trabalho, como podia ser tão burro e míope, tão petulante.
Claudio Heemann faleceu em dezembro de 1999. Assim, no ano que vem estaremos 10 anos sem nosso crítico teatral, que participou da célebre primeira montagem de Qorpo Santo, em 1966, no Clube de Cultura (como diria Hilda Hilst: "Informe-se."), e com certeza foi seguindo os passos de Qorpo Santo que Claúdio Heemann deixou pronto, antes de morrer esta preciosa seleção de textos e outras anotações que traçam um pedaço da história do teatro e do espetáculo na cidade de Porto Alegre. E mais, ele preserva e reune uma seleção dos mais importantes, destacados e elogiados acontecimentos da área cênica. Um pedaço da história do teatro local. Fundamental. E, para muitos, uma viagem sentimental e nostálgica.

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