domingo, 21 de setembro de 2008

SEICHO-NO-IE E O ENCANTO DAS MULHERES



Na mesma época em que comecei a perceber a existência das mulheres e querer me aproximar delas, conheci e comecei a andar com o Hique, ou Rique ou Rife. Nunca entendi direito o nome dele. Um cara metido a maluco, mas bom companheiro de trabalho e um amigo legal que sempre tinha cigarros. A família dele, todinha, era da seicho-no-ie. Acreditavam que o mundo é uma projeção da mente, faziam viagens espirituais pelo espaço e diziam que tudo na vida era habitado pela presença divina e então tudo devia ser amado como se fosse o próprio Deus. Que viagem. Daí que o Rife tinha que amar pedras, latas de lixo, postes de concreto e garrafas de cerveja. Mas disso eu também gostava. De cerveja e das mulheres.
A gente saía juntos. Na Lancheria do Parque. Ia andar de skate no Marinha. Ou então dava longas caminhadas pela cidade procurando qualquer lance legal: uma festa, uma briga, umas minas pra beijar. Ou simplesmente gastava uma grana bebendo cerveja e cachaça em algum boteco bem fudido. Às vezes ele tinha que me carregar pra casa. Às vezes ele é que dava trabalho. Uma noite ele tomou um porre fudido e se apaixonou por um tijolo desses de seis ou oito furos. Levantava o tijolo na mão com reverência e me mostrava como o tijolo era lindo. “Eu te amo tijolo.” E começou a fazer carinho no tijolo. Abriu as calças e tirou o pau pra fora. Alisava o pau e o tijolo. Quando o pau ficou duro enfiou o negócio num dos buracos do tijolo e ficou metendo e cantando um mantra seicho-no-ie. O cara ficou engatado na porra do tijolo. O pau trancou lá dentro. Levei ele no Pronto Socorro com tijolo e tudo. Os caras riram de montão. Quebraram o amado tijolo com um martelo. O pau do Rique tava todo esfolado. Sangrando bastante. Depois dessa façanha passou a amar somente as mulheres e outros buracos mais delicados e receptivos e que também são habitados por Deus.

Nessa época foi que comecei a perceber as mulheres. Admirá-las. Antes eu nem as via. Apenas gostava de bater nelas. De espancá-las pra valer no recreio da escola, ver como choravam, desesperadas. De repente, comecei a vê-las de uma maneira diferente. Ficaram encantadoras, a ponto de me fazer acreditar que mulher é a coisa mais bonita que existe no mundo. Comecei a pensar que sobre elas pesa a responsabilidade por um mundo menos hipócrita. Mas isso já é outro papo. E não falo só por causa do lance da trepada, do prazer, sexo, etc... Falo de encanto mesmo. De beleza, saca? Assim como... o mar, uma palmeira balançando no vento, um bauru do Trianon, um Mercedes conversível... Beleza mesmo. Estética. Design. Cheiro, movimento e tesão. Como a garota que passa agora diante da minha janela. De tarde, solzinho dourado e ela parece um sorvete cremoso rebolando e me derretendo. Esfrego instintivamente o pau. O Caetano cantando alguma coisa na cozinha. Alguma coisa que diz: “o melhor lugar é ser feliz, o melhor é ter amor...”. Amor! Essa é a palavra. Eu, cheio de amor pra receber e ela, sobrando pra me dar. E como sobrava... Eu poderia chupá-la inteira durante dias. Deus habitava ela inteirinha. Eu poderia comê-la de mil e trezentas maneiras diferentes. O olho devorando. Uma cabeça imaginando e a outra sacando todas e crescendo, comichando. Inchando pra valer. E o olho já transbordando. A menina rebolando aquela bundona carnuda. Pensei que era muito fácil amar as mulheres. Sobretudo as lindas. Sobretudo aquela ali, na parada ônibus, na frente da janela do meu quarto. Encostada no muro como um passarinho pousado numa goiabeira. Um lacinho vermelho no cabelo. Aquele solzinho incandescendo de leve a pele dela. Vejo ela de biquini na praia. Vejo ela de calcinhas brancas. Vejo ela peladinha na minha cama. Vejo ela como eu quiser. Me convidando. Vejo Deus habitando a boceta dela e me chamando pra entrar no seu templo sagrado. Ela conversa com Deus e diz pra ele: “Vou dar praquele carinha que ta na janela me olhando. Tenho que dar pra ele. Vou foder ele todinho e chupar bem o pau dele.”
O Caetano calou a boca e eu, pra aliviar a tensão, fui até a cozinha mudar de estação. Outro bobalhão começou a cantar outra merda qualquer. Resolvi atacar. Saí à rua determinado e pude ver o ônibus arrancando. Na parada, caída no chão a fita mimosa vermelha com cheiro de champú barato. Cheiro de flor. Fita mimosa, perfume, cabelo de mulher, flor, mulher. Tudo da mesma família feminina. Coisas que se afinam, que guardam a beleza em si. Todas habitadas por Deus.
Voltei para o meu quarto e me converti imediatamente a seicho-no-ie. Cantei o mantra que tocava no rádio: “eu já não penso em mais nada, só consigo pensar em você...”, enrolei a fitinha mimosa vermelha no meu pau e mandei ver. Bati uma bronha bem devagarinho pensando na garota da parada e em todas as mulheres do mundo.

Um comentário:

Tiago João disse...

A 1:33 da madrugada, sem pretenção alguma e com trabalhos interminaveis, de prazos quase inexistentes de tão curtos, para tentar passar em algumas cadeiras e, quem sabe, salvar o semestre que foi um pequeno desastre, encontro em um blog um texto inedito de Charles Bukowski!!!!
Um tanto quanto mais romantico, mas não menos atormentado, ai esta, um "legitimo & inedito" do velhinho outsider!!!!
hahaahahahahahahahaah

Modesto, precisamos conversar, depois que os prazos para a entrega dos trabalhos acabe, e quem sabe depois de eu entregar eles, marcamos um café?

bjsss querido