
Algumas idéias e ações foram pensadas para denunciar à opinião pública os porquês de tão repentina decisão. A simples razão do silêncio é que o grupo teme represálias. Imaginem um grupo de artistas se cala porque teme represálias do poder público. É quase pior do que a censura.
Em que pese este temor, vários são os acontecimentos que podem ser apontados como causadores da dissolução do grupo e entrega dos prédios aos seus proprietários. Sim, o Depósito de Teatro era inquilino. Não era o proprietário nem do espaço da Benjanim, tampouco do da Câncio. Pode-se começar citando a audácia e pretensão do grupo em vislumbrar a criação de um centro multicultural numa região da cidade absolutamente carente de recursos e horizontes, formada, principalmente, por papeleiros e sub-empregados em geral, na sua maioria com baixíssimo nível de instrução escolar ou analfabetos; sem nenhuma possibilidade de acesso e expressão cultural; uma zona insegura, empobrecida e decadente da cidade. Contrariando todas as regras de mercado e previsões marketeiras, o grupo trocou a Av. Benjamin Constant por um novo endereço onde impera o descaso e o abandono, tanto do poder público quanto dos empresários reclamões da área.
É obvio que os integrantes do Depósito sabiam onde estavam se metendo. A praça da vergonha (não entendo como nenhum ecologista reclamou do que fizeram com a praça. Onde está a Agapan?) e seus arredores são focos de miséria, exploração sexual infantil e juvenil, “bocas” de tráfico, gangues de meninos de rua e grupos de moradores de rua, além de uma máfia de pequenos contraventores. É certo que eles escolheram aquele endereço porque acreditavam piamente que o teatro poderia provocar uma sensível diferença naquele lugar. "Estabelecer ali um foco de luz", com definiu a atriz Sandra Possani.
Outros pontos que devem ser apresentados como determinantes neste ato de pendurar as luvas e abandonar o ringue, dizem respeito justamente a dinâmica e o comportamento dos membros da Associação Cultural, que manteve, ao longo destes dez anos, uma atitude bastante relapsa em relação a questões de crucial importância na gerência de um empreendimento cultural. Inaptidão administrartiva; despaixão pela contabilidade; a insuportabilidade do peso asfixiante da burocracia imposta à cultura; inedaquação para gerenciar um empredimento cultural; comportamento relapso diante de questões chave na administração de uma empresa do setor cultural (que é o que somos obrigados a ser); comportamento relapso e pusilânime em relação ao gerenciamento cotidiano e profissional do grupo e do espaço.
Mas, a frente de todos estes motivos, dois se destacaram e decretaram a impossibilidade total de continuidade. Dois principais motivos minaram até a raiz mais profunda a resistência, o prazer e a crença na luta cultural que o grupo sempre manteve: a atitude injusta, arbitrária, imoral e autoritária da Funarte que à revelia de todas as provas apresentadas e desconhecendo o excelente histórico do grupo, penalizou a Associação não só, a devolver a quantia de trinta e quatro mil reais (mais ou menos o mesmo valor de que foram vítima comprovada pela justiça de um roubo praticado por sua produtora), e além disso simplesmente diz que o grupo perdeu o direito a outros 180 mil reais a que a Associação fez jus licitamente em dois outros editais promulgados e definidos pela referida entidade. Mas, sobre isso quero falar mais extensamente outro dia. Hoje quero tratar do outro motivo: a Prefeitura de Porto Alegre, administração José Fogaça.
Artista, intelectual, homem de visão, democrata, ora num partido, ora noutro, José Fogaça recebeu solenemente a diretoria da Associação em seu gabinete de audiências da Prefeitura. Na ocasião o grupo lhe apresentou o Projeto Entorno Solidário, que resumidamente propõe uma série de ações artístico-culturais-profissionalizantes no entorno da sede, em troca de uma verba que seria investida na manutenção do grupo e do espaço. O próprio grupo se encarregou de indicar ao prefeito a fonte desta despesa: o PIEC - PROGRAMA INTEGRADO ENTRADA DA CIDADE, que prevê em seus estatutos que sejam apoiadas financeiramente idéias e projetos de natureza cultural. O dinheiro existe e vem do Banco Mundial. Ou seja não sai um centavo dos cofres municipais e a cidade ainda ganha um centro cultural descentralizado cuja proposta é encarar o "trabalho sujo" que vem sendo feito justamente por ONGs e outros artistas kamikases. Era o negócio da China. O prefeito ficou encantado com o projeto. Ordenou imediatamente que seus assessores tomassem todas as providências cabíveis. Resultado: passados quase um ano e oito meses o projeto continua(?) tramitando pela Prefeitura. Passados uma ano e oito meses o grupo vinha sendo suavemente enrolado pela amabilidade e simpatia da Secretaria Municipal da Cultura que tentava débil e suavemente pressionar a liberação da verba.
Falta de visão do Fogaça? Ele estava mentindo e enganando descaradamente o grupo? Ou foi preguiça e falta de visão dos seus comandados? O dinheiro foi usado para outra coisa? Como vão prestar contas da parte do dinheiro que deveria ser aplicado em projetos da área cultural? Incógnitas não explicadas.
O resultado é que por BURRICE, DESCASO ou MÁ GESTÃO DE VERBA, a cidade de Porto Alegre perdeu a oportunidade de implantar um projeto que poderia ser piloto na área cultural, além de perder um espaço cultural maravilhoso numa área de risco.
Outros pontos que devem ser apresentados como determinantes neste ato de pendurar as luvas e abandonar o ringue, dizem respeito justamente a dinâmica e o comportamento dos membros da Associação Cultural, que manteve, ao longo destes dez anos, uma atitude bastante relapsa em relação a questões de crucial importância na gerência de um empreendimento cultural. Inaptidão administrartiva; despaixão pela contabilidade; a insuportabilidade do peso asfixiante da burocracia imposta à cultura; inedaquação para gerenciar um empredimento cultural; comportamento relapso diante de questões chave na administração de uma empresa do setor cultural (que é o que somos obrigados a ser); comportamento relapso e pusilânime em relação ao gerenciamento cotidiano e profissional do grupo e do espaço.
Mas, a frente de todos estes motivos, dois se destacaram e decretaram a impossibilidade total de continuidade. Dois principais motivos minaram até a raiz mais profunda a resistência, o prazer e a crença na luta cultural que o grupo sempre manteve: a atitude injusta, arbitrária, imoral e autoritária da Funarte que à revelia de todas as provas apresentadas e desconhecendo o excelente histórico do grupo, penalizou a Associação não só, a devolver a quantia de trinta e quatro mil reais (mais ou menos o mesmo valor de que foram vítima comprovada pela justiça de um roubo praticado por sua produtora), e além disso simplesmente diz que o grupo perdeu o direito a outros 180 mil reais a que a Associação fez jus licitamente em dois outros editais promulgados e definidos pela referida entidade. Mas, sobre isso quero falar mais extensamente outro dia. Hoje quero tratar do outro motivo: a Prefeitura de Porto Alegre, administração José Fogaça.
Artista, intelectual, homem de visão, democrata, ora num partido, ora noutro, José Fogaça recebeu solenemente a diretoria da Associação em seu gabinete de audiências da Prefeitura. Na ocasião o grupo lhe apresentou o Projeto Entorno Solidário, que resumidamente propõe uma série de ações artístico-culturais-profissionalizantes no entorno da sede, em troca de uma verba que seria investida na manutenção do grupo e do espaço. O próprio grupo se encarregou de indicar ao prefeito a fonte desta despesa: o PIEC - PROGRAMA INTEGRADO ENTRADA DA CIDADE, que prevê em seus estatutos que sejam apoiadas financeiramente idéias e projetos de natureza cultural. O dinheiro existe e vem do Banco Mundial. Ou seja não sai um centavo dos cofres municipais e a cidade ainda ganha um centro cultural descentralizado cuja proposta é encarar o "trabalho sujo" que vem sendo feito justamente por ONGs e outros artistas kamikases. Era o negócio da China. O prefeito ficou encantado com o projeto. Ordenou imediatamente que seus assessores tomassem todas as providências cabíveis. Resultado: passados quase um ano e oito meses o projeto continua(?) tramitando pela Prefeitura. Passados uma ano e oito meses o grupo vinha sendo suavemente enrolado pela amabilidade e simpatia da Secretaria Municipal da Cultura que tentava débil e suavemente pressionar a liberação da verba.
Falta de visão do Fogaça? Ele estava mentindo e enganando descaradamente o grupo? Ou foi preguiça e falta de visão dos seus comandados? O dinheiro foi usado para outra coisa? Como vão prestar contas da parte do dinheiro que deveria ser aplicado em projetos da área cultural? Incógnitas não explicadas.
O resultado é que por BURRICE, DESCASO ou MÁ GESTÃO DE VERBA, a cidade de Porto Alegre perdeu a oportunidade de implantar um projeto que poderia ser piloto na área cultural, além de perder um espaço cultural maravilhoso numa área de risco.
O GRUPO DEPÓSITO DE TEATRO, privado da comemoração de décimo ano de intensas e memoráveis realizações, perde sua base, sua casa, sua cara, sua referência, seu centro de operações, perdeu o tesão, perdeu o rumo, o sentido de existir, perdeu totalmente a confiança neste neste governo de realizações medíocres, que tratou com medidas paliativas (algumas muito boas, mas paliativas) questões tão importantes quanto a manutenção dos espaços culturais sob administração de grupos de teatro e da sobrevivência dos próprios grupos.
Tendo em vista que o município não dá conta de construir ou instalar e administrar novos espaços culturais em regiões descentralizadas da cidade, e, aliás, nem no centro (o Centro Municipal de Cultura foi construído no final dos anos 70), é um absurdo irracional permitir a extinção de um grupo de teatro, é uma insanidade cultural perder a parceria de um grupo de teatro para cumprir uma missão que, no mínimo, é também da Prefeitura. Reflexo de como as coisas relacionadas a cultura são tratadas em nosso estado. Orgulho de ser gaúcho? Como assim? E na Cultura, não vai nada?
Modesto Fortuna
LEIA NO PRÓXIMO NÚMERO = OUTROS CAUSADORES DA MORTE DO DEPÓSITO DE TEATRO.
*Jornal do Comércio RS, 05 de agosto de 2005.
Foto: Kiran
Aparecem na foto: Os Três Patetas (Maria Falkembach, Sandra Possani, Roberto Oliveira) e José Fogaça.
LEIA NO PRÓXIMO NÚMERO = OUTROS CAUSADORES DA MORTE DO DEPÓSITO DE TEATRO.
*Jornal do Comércio RS, 05 de agosto de 2005.
Foto: Kiran
Aparecem na foto: Os Três Patetas (Maria Falkembach, Sandra Possani, Roberto Oliveira) e José Fogaça.
Um comentário:
o que fez o depósito de teatro nos seus 10 anos, ou pelo menos o que vi, não é bom para os padrões locais.
era bom pra tudo quanto é padrão.
não lembro nunca de ter assistido alguma coisa do depósito sem que eu tenha saído com a alma cheia, os olhos coloridos e a certeza de que tinha visto um grande teatro.
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