quarta-feira, 5 de novembro de 2008

PRÓXIMO ATO - SEGUNDO DIA


Bem puxado esse negócio aqui. Trabalho das nove da manhã às dez e meia da noite. E no dia seguinte tem de novo. Hoje o dia começou na Casa das Rosas, maravilhoso palacete, acho que do início do século XX, com um roseiral gigantesco. Foi aí o encontro da manhã, que começou as nove e meia com o trio de curadores explicando a dinâmica do Espaço Aberto, que discute temas que partem das inquietações dos próprios participantes e congrega os participantes que, livremente, se inscreverem para debater sobre este ou aquele tema. A idéia é aproveitar o clima de liberdade de assuntos que existe num coffe-break, por exemplo.
Foram apresentados 12 temas para discussões, que foram divididas em duas sessões de debates de duas horas cada um. Cada participante só pode escolher dois temas e então torna-se uma escolha muito difícil pois a gente gostaria de estar pelo menos em três lugares ao mesmo tempo. Isto é impossível. Mas participar de três discussões é possível porque as regras deste enorme coffe-break permitem que você se retire de uma reunião e entre em outra, no momento que a primeira não esteja mais lhe interessando. Todos os temas expressavam questões centrais e comuns a todos os teatreiros de norte a sul do Brasil.
Almoço, adivinhe onde? No restaurante do Itaú Cultural.
De tarde dois mini-cursos. Adivinhe onde? No Itaú Cultural. O primeiro, "O Que Acontece no Entremeio - Teatro Como Espaço Liminar" com a mega doutora e professora phd total Erika Fischer-Lichte que abordou as diferenças entre o fenômeno da encenação e o da apresentação, explicitando que a experiência da apresentação é absolutamente única e muito mais efêmera do que o próprio fenômeno teatral, uma vez que cada apresentação é a soma de relação entre aquele grupo de atores e aquele grupo de espectadores e que uns afetam aos outros simultaneamente.
Depois foi a vez da mega doutora e professora phd total Ileana Diéguez provocar a platéia com o tema "Os Limiares da Cena - Teatralidades, Performances e Política", através do qual palestrou sobre os limites do teatro, ou melhor, sobre as fronteiras do teatro com outras artes performáticas, como por exemplo a instalação. O teatro como arte liminal ou numa liminaridade que aproveita vários elementos do teatro recombinados com outros meios artísticos. Ilena apresentou cenas de uma re-criação de Antígona, que relacionava-se diretamente com um momento político do Peru, onde o Presidente Fujimori havia proibido de se falar nos túmulos encontrados numa escavação. E duas outras experiências que transbordavam teatralidade, mas preenchiam-se (será enriqueciam-se?) com elementos de outras áreas da arte.
De noite, mais uma rodada na Sala Vermelha do Itaú Cultural, que só não é maior por falta de espaço. Se fosse em Itú, certamente teria o dobro do tamanho. Com 0,5% da verba anual que sustenta uma estrutura daquele tamanho não teria acontecido o que aconteceu com o Depósito de Teatro. Mas isso é outro assunto.
De noite, duas belíssimas palestras, imperdíveis: a professora Erika Fischer-Lichte dissertando sobre a totalidade da sua teoria sobre o fenomeno da apresentação, e o mega doutor e professor e phd total em estética e crítico de arte, Rodrigo Naves. Simplesmente, genial. Os dois palestrantes propuseram uma discussão de altíssimo nível cada um na sua área. Rodrigo Naves citou vários autores e filósofos alemães e isso fez com que a doutora Erika suavizasse a expressão que usava no início da fala do colega da artes plásticas. Ele começou falando baixinho, num tom quase monocórdio, mas que logo inflamou-se e se transformou num , tão apaixonado e provocativo, quanto bem humorado discurso sobre os limites apresentados a chamada arte contemporânea. Encantou a platéia inteira.
O debate acabou por falta de perguntas e porque o restaurante fechava as 23 horas e muita gente queria pegar o fimzinho do jantar. Como dizia Brecht, primeiro a barriga, depois o foder, depois...

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