sábado, 12 de junho de 2010

TEATRO PÚBLICO TEM TAXA?

Tem. Quer dizer, já teve, depois não teve mais e agora tem de novo. Na Prefeitura do Fogaça e Fortunati tem. E é cara. Prejudicial e desanimadora, eu diria. 
Trata-se de uma taxa que pode ser discutida sobre mais de um aspecto. É uma taxa que pode ou não ser cobrada dependendo do entendimento de quem tem poder para aplicá-la. É uma taxa que é considerada injustiça por grande parte da classe teatral. Trata-se de um teatro público, onde se é forçado a dar ingressos para funcionários públicos. Os teatros são destinados a todas as espécies de espetáculos de artistas portoalegrenses, e por isso mesmo não têm uma "cara".  
Para colocar, por exemplo, o espetáculo Solos Trágicos em cartaz por 10 noites no Teatro Renascença, o grupo Depósito de Teatro teve que desembolsar 900 reais, como pode ser observado no comprovante acima. Em se tratando de um espetáculo nitidamente de investigação teatral, hermético, destinado a um pequeno público frequentador assíduo de teatro, àquelas poucas pessoas que dão preferência ao teatro chamado de pesquisa, é muito caro. Representa mais de 75% do dinheiro arrecadado na bilheteria.
Sabendo das características do seu espetáculo e sabendo do custo do teatro, porque este tipo de grupo pede datas neste espaço? Simples, porque quer mostrar seu trabalho e não existe outras possibilidades. Tem que forçosamente arriscar e aceitar as regras do jogo. Acontecem casos de grupos assumirem dívidas.
E a comissão que distribui as datas desconhece o teor das peças que contempla? Claro que não. Para concorrer a uma sala pública, o grupo tem que apresentar um projeto descrevendo minuciosamente o espetáculo. Além disso, a comissão é formada por "gente de teatro", então, é impossível que eles não saibam as chances que a peça tem de faturar ou não. Pelo menos numa rápida estimativa. Por que, então dão o teatro para este tipo de peça? Porque têm que ser democráticos, tem que atender a todos os tipos de demandas. E o teatro é público mesmo. Se não tiver público, azar.
Cabe salientar que, se esta taxa não beneficia os grupos, ela também não beneficia ninguém. Nem mesmo ao poder público. Tampouco aos contribuintes. É óbvio que não é a quantia arrecadada que sustenta os teatros. A parcela arrecadada é ínfima. A verba também não garante que o grupo receba o teatro com 100% de condições técnicas. Pelo contrário. A mesa de luz do Teatro Renascença, por exemplo, tem 15 anos de atividade e está cheia de problemas. Que benefício a taxa oferece ao público? Ingressos mais acessíveis? Não. Uma cota de cortesias distribuídas através de senhas? Também não. Nenhum benefício. A não ser para os funcionários da Prefeitura. 
Por que não inventar uma maneira mais inteligente e menos onerosa de cobrar do grupo uma taxa pela ocupação dos seus teatros? Quem sabe aumentar as opções. Neste caso o grupo poderia escolher pagar com ingressos cortesia ou em dinheiro. Seria a possibilidade mais óbvia. Devem existir outras. Com certeza, seria mais uma forma que a Prefeitura encontraria de incentivar, ao invés de desestimular, a realização de peças que envolvem a pesquisa teatral e outros tipos de teatro que não são tão apetecíveis aos gostos médios do público.
Aí está uma ação que poderia ser encampada pela Coordenação de Artes Cênicas, que tem por objetivo estimular a produção e a distribuição do teatro em Porto Alegre, criando formas de atender beneficamente os artistas e o público da cidade.

Um comentário:

Helena Mello disse...

Ainda não vi Solos Trágicos. E pretendo. Ouvi excelentes comentários. Eu que agora me considero "gente de teatro" :) acho que o grupo só deveria ter que pagar taxas se efetivamente faturasse. Teria que ser algo condicionado. Mas, como dizem meus colegas, tenho esta mania de questionar, de exigir direitos...Esta coisa que parece tão fora de moda!