quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

E NA CULTURA, NÃO VAI NADA?

No dia 3 de janeiro o jornal Zero Hora publicou um texto do novo Secretário de Estado da Cultura, o emérito escritor Luiz Antonio Assis Brasil. Em sua pequena resenha ele compara a cultura com "um peixe na água translúcida, que devemos pescar com as mãos nuas", e mostra, num discurso tão empolado, quanto conectado ao linguajar pós-moderno, que pretende pensar:
...numa tríade operativa: a estética (consubstanciada no reconhecimento e na preservação dos elementos simbólicos, expressos nas chamadas belas-artes, mas também nas manifestações espontâneas das comunidades), a cidadã (em que o Estado  a reconhece como direito de todos, transformando-se em agente estimulador da mais ampla circulação destes bens) e a econômica (na qual o agente público estabelecerá condições para que a cultura resulte na utilização desses itens para gerar emprego e renda).
O homem demonstra que entende do riscado, como ele mesmo diz "com uma mentalidade estritamente contemporânea, que é ampla e dialógica". Gostei do discurso do ilustre Assis Brasil. Senti firmeza.
Mas, no dia seguinte ele conseguiu estragar tudo. A mesma Zero Hora publicou uma matéria sobre sua posse à frente da Secretaria. A matéria tem o seguinte subtítulo: Secretário assume e promete diálogo. De minha parte sempre pensei que o diálogo fosse obrigatório. Inerente.
Segundo a matéria, Assis Brasil disse, em seu discurso de posse, que ele e sua equipe pretendem dialogar com o setor cultural, ouvir os expoentes da área para mapear as necessidades do mundo cultural do estado: "Será o primeiro passo para construir um plano estadual de cultura".
Ora, secretário, como o Sr. coaduna um discurso tão pós-moderno com um papo furado tão velho quanto a proclamação da república? Todos os secretários querem dialogar. Todos querem conhecer os problemas da cultura. Como assim? Para ser secretário não seria uma condição  sine qua non que o sujeito já conhecesse os problemas de sua área? Para ser secretário será que o ocupante do cargo já não deveria ter um plano para o setor que vai assumir? Ora, secretário Assis Brasil, me desculpe, mas fazer levantamento de problemas ninguém aguenta mais. 
Na minha opinião, até prova em contrário, o novo secretário é tão distante da cultura quanto um peixe que nada, seja na água translúcida ou não. É um homem que sempre foi ligado ao chamado setor do livro. Tal como o secretário municipal da cultura Sergius Gonzaga, que só vislumbrou que havia uma cultura além do livro quando assumiu o cargo na prefeitura de Porto Alegre, e aí sim, percebeu, como diz Assis Brasil, que "a cultura é múltipla e está em contínuo processo". 
De qualquer maneira é bem melhor ter um intelectual como Assis Brasil dirigindo a cultura do estado, do que alguém vazio e sem conteúdo como a ex Mônica Leal. Se o Assis Brasil perder pra Mônica, vai ganhar de quem?

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