terça-feira, 10 de julho de 2007

VIVA A CHORADEIRA PANFLETÁRIA

Num momento qualquer da história bem moderna inventou-se o panfletarismo e de repente tudo virou panfletário. Fazer campanha contra ou a favor de qualquer coisa é panfletário. Manifestações em geral é panfletário. Piquete é completamente panfletário. Entregar panfletos é panfletário. Acho que isso começou um pouco antes do “politicamente correto”. Atualmente com o Big Bush mandando bala, voltou à moda falar mal do Tio Sam, mas sempre tem que tomar cuidado pra não ser chamado de panfletário.
No teatro é exatamente a mesma coisa. Só muda o rótulo: choradeira. Qualquer coisa que se reclame é choradeira. Não se pode reclamar. Não se deve reclamar de nada ou logo se ouve: “- Começou a choradeira”. Quando alguém pergunta como vai a situação do teatro local, a gente, que é de teatro, já pede desculpa antes de começar a falar rezando para que o interlocutor não vá pensar que se trata de mais uma crise de “choradeira”.
Mas cá entre nós, a situação está péssima. E chamem do que quiserem.
Deixar de fazer uma denúncia social ou política apenas porque ela vai ser tachada de panfletária é acreditar no imobilismo. Deixar de enumerar os eternos problemas do teatro gaúcho apenas por que vão dizer que é “choradeira”, é tapar o sol com a peneira. Apenas por exercício especulativo: a “choradeira” da classe teatral não seria, eventualmente, porque os “eternos problemas do teatro local” continuam, há mais de quinze anos sendo eternos? Não seria porque estes renitentes problemas não estão sendo atacados por aqueles que ocupam cargos e têm a responsabilidade pública de fazer alguma coisa a respeito?
O que nós, artistas de teatro, devemos fazer? Devemos calar? Sorrir muito? Parecer felizes? Exemplo 1: A secretaria de estado da cultura afogada em dívidas herdadas da administração anterior, que as herdou da administração anterior, que herdou da outra que veio antes, ainda não pagou integralmente o prêmio de incentivo às artes cênicas de 2002, não colocou o edital em 2003, nem 2004. Instaurou um prêmio para 2005/06, depois voltou atrás e retirou-o do ar, mesmo ja tendo grupos inscritos. A LIC, desde sua criação atende muito mais aos grandes projetos do que a produção teatral “formiguinha”representada pelos espetáculos que fazem a vida cultural da cidade. O que significa para um empresário o meu projeto quando ele concorre com o mega Porto Alegre em Cena? Com o glamuroso Festival de Gramado? Com a super OPUS e sua corrente de patrocinadores? Onde está o fundo de apoio à cultura?
Exemplo 2: Em três ocasiões diferentes entreguei para três coordenadores de artes cênicas diferentes (a pedido deles) e para dois secretários municipais de cultura diferentes (que não pediram) um documento apontando problemas crônicos, estruturais e necessidades do teatro local. Se na próxima administração da mesma secretaria porventura me pedirem posso apenas imprimir novamente o mesmo documento (como fiz em cada uma destas vezes anteriores) e entrega-lo mais uma vez porque ele continua(rá) atualíssimo.
A ordem na classe teatral parece ser cada um cuidar da sua vida isoladamente, parar com a ”choradeira”, continuar produzindo e procurar resolver os problemas.
Achamos mesmo isso? Ou entendemos que muitos destes problemas não deveriam ser tratados por nós? Nós é que devemos desenvolver soluções que deveriam ser pensadas, planejadas e exercidas por outras pessoas que foram eleitas ou designadas para cuidarem disso? Pessoas que se escudam na desculpa da faltas de verbas para ficarem com suas bundas magras ou gordas ou flácidas ou empinadas enfiadas em cadeiras confortáveis esperando que a gente resolva o que eles deviriam resolver. Será que a gente reclama porque é chorão ou porque simplesmente as coisas não são mesmo feitas?
Grandes tacadas federais como passar o pires na Itália buscando dinheiro para restaurar prédios da colonização italiana no interior do Rio Grande do Sul, ou uma campanha para trazer para Porto Alegre um Centro Cultural do Banco do Brasil, são iniciativas louváveis na sua essência, mas e o dia a dia? E a produção teatral? A infraestrutura? A distribuição de espetáculos? A manutenção de grupos estáveis?
Por tudo isso, inflamado por este ataque de chorão e panfletário, lanço a convocação: CHORÕES E PANFLETÁRIOS DO MUNDO DO TEATRO, UNI-VOS. NÃO DÁ MAIS PARA SUPORTAR CALADO TANTO DESCASO! POR UMA POLÍTICA CULTURAL CLARA E EFICIENTE! POR APOIO A PRODUÇÃO TEATRAL! MAIS VERBAS PARA O TEATRO!

Um comentário:

Plínio Marcos Rodrigues & Téo Rodrigues disse...

Comentário de um Chorão!
Infelismente, Modesto, tens razão em teu desabafo/choradeira! Parece que nós fazedores teatrais nos cansamos ou secaram-se nossas lágrimas.
Se "Homem não chora" que nos deixem chorar os grupos de teatro enquanto não forem atendidas nossas renvindicações!
"Viva a Choradeira Panfletária" e Viva este blog muro das lamentações de um teatro que se não chorar não vai mamar!
Abraços e lágrimas,
Plinio Marcos Rodrigues.