domingo, 14 de junho de 2009

UM BANQUETE DE DISCURSOS



“A educação deve possibilitar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter”.
Platão

E como sempre faço há anos, lá fui eu assistir outra peça do Luciano Alabarse. Desta vez eu saí de casa sabendo que iria passar pelo menos quatro horas na companhia dele. Sempre acho que vale a pena. O Luciano é uma inteligência rara aqui em Porto Alegre. Ele é o único que continua fazendo teatro de quinta a domingo com casa cheia. Ele e todo o chamado teatro comercial. Só que o teatro do Luciano não se trata de comédias superficiais feitas ao gosto da classe média. Ele tornou comercial algo que não é comercial. Teatro para uma classe de alto poder aquisitivo, consumidora de arte e intelectualizada.
Dei uma olhada na platéia do Theatro São Pedro e lembrei do casal Álvaro e Eugênia Moreyra. É, ele mesmo, o Álvaro Moreyra da Sala Álvaro Moreyra do Centro Municipal de Cultura. Pois este casal, em 1927, fundou no Rio de Janeiro, o Grupo Teatro de Brinquedo, composto por membros da alta burguesia, buscando comunicar-se com pessoas de “gosto mais elevado”. Criaram um grupo cercado de respeitabilidade. Bacana. Um teatro feito por ricos e apresentado para ricos. Acho que tem tudo a ver com a proposta do Luciano.
A primeira peça é uma leitura dramática encenada. É a entrada do banquete. Composta de pequenos embates filosóficos, frutas e vinho para aquecer a mente do espectador. Uma entrada leve, meio insossa, temperada apenas por um ou outro golpe de teatro de algum ator mais saidinho. Em geral as interpretações são exageradas ou esperadas, tipo o Marcos Contreras, repetindo a si mesmo. Mesmo Marcelo Adams, sempre um excelente ator, sofre para dar conta da verborragia da peça e tem que despender uma energia extra para que seu gênio brilhe em alguns momentos.
Intervalo.
E é servido o prato principal: O Banquete. Apesar das peripécias e ousadias inventadas pelo diretor, é um banquete meio requentado. A primeira parte aqueceu nossa mente, mas torrou o nosso saco. O nível das interpretações cai sensivelmente. Todo mundo se repete. Sandra Dani é tão boa quanto sempre. Luti Pereira é tão bom quanto sempre. Carlos Cunha e Baldissera, idem. Mas, nenhum deles nos brindam com o que têm de melhor. E com Luiz Paulo Vasconcellos retornamos ao ponto. Aí não há diálogo nem discurso que resista. Continuo gostando mais do Luciano de antes do PoA em Cena.
M.F.
FOTO: JULIO APPEL

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