sábado, 20 de junho de 2009

O DESVARIO DA TAINAH


DESVARIOs.m. Desregramento do proceder; desatino, loucura, delírio: os desvarios da juventude.Desvario: devaneio, desacerto, loucura, formada pela prefixação de "des" + o radical "vari" + o morfema "ar". Desvario: alienação, alucinação, delírio, demência, desatino, desvairo, insânia, loucura e tresvário

Em primeiro lugar: vão ver que a peça é boa. Na verdade, a peça é muito boa. Tudo o mais que eu escrever adiante jamais poderia diminuir uma vírgula desta montagem que é um acerto, pricipalmente se levarmos em conta o atual panorama do teatro local.
O texto é brilhante. Os cacos são bons. As liberdades com o texto são boas. A marcação é criativa, variada e, por muitas vezes, tão surpreendente quanto o texto. Os atores estão todos muito bem. Pequenos deslizes de texto de uma atriz, mas afinal de contas estamos no segundo dia. Vi a peça e já fiquei com vontade de vê-la novamente depois da trigésima apresentação. Daí é que vai estar boa de verdade. Por enquanto, parece apenas um arremedo do que pode ser esta história de “um homem desorientado, quase desesperado”, conforme ensina o release da peça. A interpretação do casal protagonista terá que elevar-se mais alto se quiserem atingir as notas gravadas no texto, que é simplesmente brilhante. Melhor do que este somente Paul Auster em O Gordo e o Magro vão para o Céu.
A direção de Tainah é segura e limpa. Tem um desenho claro e uma modernidade inerente. Tem gente quer ser moderno, que segue a Cartilha da Encenação Contemporânea. Têm outros que estão sintonizados com o seu tempo e simplesmente são modernos.A peça tem um ranço, tem algumas barrigas e mente quando propõe um jogo com a platéia e não está preparada para cumpri-lo. Ou não quer cumprir. Quando uma regra do jogo não é cumprida o jogo fica sem graça. Se é dado o direito para que o público escolha democraticamente a cena que quer ver, fica implícito que as outras duas alternativas perderam e estão fora do espetáculo. As barrigas estão em certas repetições de cenas e textos. Sim, já entendemos o mote principal. Sim, já entendemos que estamos diante de um texto fragmentado, loucão, pra lá de inteligente. Pra que ficar repetindo? Já o ranço, na minha opinião tem duas causas:
1. A direção não permite que a peça exploda. Amarra-a a uma seriedade excessiva em momentos que não são sérios. Não se decide pela comédia. Fica em cima do muro.
2. O protagonista "desorientado", presentificado por Leandro Lefa, é bom de corpo e em alguns momentos alcança a graça, mas, carece de força, falta presença e nuanças no texto, energia de protagonista. Fiquei torcendo para que o personagem do Lucas Sampaio desse um pau no carinha pra ver se ele ligava todos os motores. O personagem dele é o próprio Pato Donald. Se fode até quando se dá bem. O Leandro é perfeito para o papel. Tem que ver desenho do Pato Donald e explodir na peça.
Desvario recebeu financiamento do Fumproarte. Deve ter recebido a mesma verba mixuruca que todo mundo recebe pra realizar seus projetos. Mas, mesmo esta verba mixuruca, já faz uma enorme diferença no resultado da produção em geral. Alguém da UFRGS que tenha visto o trabalho quando era resultado de um projeto de graduação e revisto agora, devia cobrar da Reitoria da UFRGS, uma posição mais ativa na viabilização de recursos para a produção dos trabalhos finais do DAD. Ou, no mínimo, se coçar para adequar tecnicamente suas salas de espetáculo para que o aluno tivesse reais condições de experimentar ou, simplesmente, realizar seu projeto. Já que a UFRGS capta recursos da Cultura para proteger e recuperar seus prédios históricos, será que ela não poderia captar ou destinar recursos da Cultura para seus teatros?
Parabéns, pra todo mundo.
Vão ver.
M.F.
Na foto de Elisa Viali (ZH) aparecem Lucas Sampaio e Elisa Volpato

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