terça-feira, 2 de junho de 2009

A DECISÃO - O TEATRO DIDÁTICO DE B. BRECTH

“Os filósofos até então apenas interpretaram o mundo; trata-se agora de transformá-lo.”
Karl Marx

“É que, parece, não existe a possibilidade de modificar o público burguês: quando um homem burguês (e quem não o é?) entra num teatro, de certo modo se despede da vida, esquece o mundo “exterior”, e pede a sua dose de diversão. Brecht dá agora um passo radical: se não dá para mudar o público, invente-se um novo público, e, se nem isso for possível, então, mais simplesmente, cometa-se o crime perfeito e suprima-se até mesmo a idéia de público. E é assim que surgem as peças didáticas. (...) abandona-se aquela diversão perdulária, e fica-se com a seriedade do pedagógico, com o exercício ascético da racionalidade.”
Gerd Bornheim

Anos-luz distante da diversão perdulária, o Grupo Trilho, com muita coragem e determinação, enfrenta bravamente a tarefa de apresentar uma peça que além de antiga é política até a raiz, e, mais do isso, propõem-se a demonstrar a função pedagógica do teatro. Trata-se de “A Decisão”, escrita em 1930, pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht, que, mais ou menos nesta época escreveu outras peças que se inserem na classificação de peças didáticas, tais como “O Vôo de Lindberg” e “Aquele que diz sim”, ambas de 1929.
O Professor Gerd Bornheim, em seu livro Brecht, A Estética do Teatro, observa que “o sucesso de Brecht com as peças didáticas, sobretudo em colégios, era muito grande, o que o encorajava a continuar explorando o rico filão.” Entretanto, o mesmo autor comenta que “A Decisão” já é uma peça muito ligada ao Partido Comunista”, e que a partir desta peça Brecht abandona os colégios e se volta para os sindicatos operários.
Fidelíssimos ao autor, o Grupo Trilho segue à risca suas indicações. Utiliza um recurso estipulado por Brecht: “cada um dos quatro atores deve representar o jovem (o protagonista) numa das quatro cenas principais.”
Inegavelmente a peça dá o seu recado favorável a revolução. Os atores são fiéis a sua missão e se entregam com energia e paixão. Nem todas as interpretações são convincentes. O desnível entre os atores é enorme. A parte musical do espetáculo é executada com prazer e vigor.
Achei que o espetáculo caiu um pouco no final. Tudo parece ser uma repetição do que já foi dito e visto. Não sei se é a peça que cansa ou se me afastei do espetáculo quando Brecht diz que o jovem devia mesmo ter sido morto porque colocara o sentimento à frente da razão, e que por agir de forma impulsiva, passional e romântica comprometia o processo revolucionário e, principalmente, o partido, sendo necessário seu desaparecimento. Aí é demais, né, seu Brecht?

2 comentários:

GERI DI DANTE disse...

Gostei muito da sua crítica sobre o espetáculo. Não pulverizou veneno sobre a equipe; não acusou ninguém de sapatear "os cascos", não fez mais que apontar com propriedade o que alí sucedeu.
As peças Didáticas de Bertolt Brecht nada mais é a visão de um homem conectado com o mundo; com suas inquietudes...

GERI DI DANTE disse...

...As peças Didáticas de Bertolt Brecht nada mais é que a visão de um homem conectado com o mundo; com suas inquietudes...