sexta-feira, 15 de maio de 2009

A COMÉDIA DOS ERROS - MUITOS ACERTOS, POUCO RISO


Sei que minha grande amiga e colega Adriane Mottola há muito tempo acalenta a idéia de encenar A COMÉDIA DOS ERROS. Desde os tempos do Decameron, quando a conversa girava em torno de que peça poderíamos montar, essa possibilidade já era citada. E agora, finalmente, seu sonho está em cena. E somente isto já seria um fato prodigioso. Está em cartaz a ousada encenação que a diretora Adriane Mottola, corajosamente bota na roda como sua proposta para elucidar a seguinte questão: como se daria a adaptação, a aproximação, da forma elisabetana, que passados quinhentos anos já podemos chamar de clássica, ao gosto do público moderno. Como encenar Skakespeare sem ser chato? Impossível não comparar quando somos (beneficamente) assolados por montagens dos clássicos shakespearianos. Ficando apenas no âmbito da comédia, pode-se dizer que: enquanto Daniela Carmona e Adriano Baseggio escolheram apostar na fantasia onírica e campestre e na magia incandescente das fadas e Patrícia Fagundes da preferência ao caminho da comunicação agíl e movimentada dos cabarés e casas noturnas, Adriane vai fundo na proposta de modernização, aproveita seu trabalho e estudos de teatro contemporâneo para contemporaneizar Shakespeare.
Montagem super bem realizada com figurinos, como sempre, impecáveis de Coca Serpa. Cenários sugestivos e bem construídos. A iluminação franciscana mas eficiente.
A direção de Adriane Mottola é segura e resulta num espetáculo limpo, bem articulado, mas que ao ver peca pela escolha da tradução de Barbara Heliodora. Pode ser uma boa jogada de marketing, mas o texto versificado choca-se com a proposta ultra moderna da marcação coreografada.
Assisti a terceira apresentação da peça. A primeira realizada numa segunda-feira. Os erros não estavam apenas no título. Aconteceram vários tropeços durante a apresentação. O espetáculo estava frio. Intimidado. Sem ritmo. coisas que não significam absolutamente nada, simplesmente porque é assim que funciona. Na terceira apresentação uma peça está engatinhando a procura de um sentido, de um ritmo e de uma conformação particular que só vai atingir lá pela viségima apresentação. Fora isso, senti falta da comédia. Do riso provocado pelas situações cômicas. A platéia sorria. O elenco esforçava-se visivelmente na tentativa de parecer engraçados. Mas a explosão sonora das risadas não acontecia. Talvez por causa do próprio esforço. Destaque para a atriz Janaina Pelizzon que aparece num papel pequeno mas muito bem aproveitado. Ao vê-la em cena, lembrei do filme "Quero Ser John Malkovitch", e pensei: quero ser Janaina Pelizzon. Sem esforço, com um "time" perfeito.
Resumindo, trata-se de uma produção de alto nível, espetáculo de puro teatro, bem realizado e saboroso, mas esbarra na falta de comédia, talvez por ficar tri-partido entre o contemporianismo das marcas coreografadas, o texto mantido em versos e o esforço exagerado de alguns atores para tornarem-se engraçados.
M.F.
Foto: Marcos Nagelsten zh
Aparecem na foto: Janaina Pelizzon e Sofia Salvatori

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