quinta-feira, 14 de maio de 2009

ÉDIPO - UMA AULA DE TRAGÉDIA


Fui ao Theatro São Pedro ver a nova peça do Luciano Alabarse, a tragédia Édipo. Peça do Luciano é para mim ida obrigatória ao teatro. Primeiro, porque, pra quem não sabe acompanho a trajetória do Luciano desde quando ele era aluno do DAD/UFRGS. Pra falar a verdade, eu era bolsista da Universidade e trabalhava como uma espécie estagiário em uma peça dirigida pelo Luciano. Acho que era seu trabalho de formatura. Vi praticamente todas as peças que ele dirigiu e pelo menos uma, em que ele atuou. Em segundo lugar, em todas as oportunidades, percebi seriedade artística e profundidade de propostas. Um teatro absolutamente consequente. E sempre com muito público.
Pra começar a dramaturgia é de primeira. Tanto a de Sófocles, como a do Luciano, que teve a sacação e o tino de reunir com inteligência as peças Édipo Rei e Édipo em Colono. Desceu redondo. Principalmente na parte final, onde, embalado pela representação dos atores, Luciano Alabarse cria um cena de grande apelo (no melhor sentido dramático) emocional para a platéia.
Escrevi para o Luciano logo após ter assistido o espetáculo que eu achava que ele estava ficando careta. E é o que acho. Eu gostava imensamente mais e era tocado imensamente mais quando assisti, por exemplo, Pode Ser que Seja Só o Leiteiro Lá Fora, ou a adatação que ele fez para um romance de João Gilberto Noll, chamado Hotel Atlântico. Vou ficar somente nestas duas. Aquele era o Luciano que eu gostava. Cada peça era melhor do que a anterior. E agora?
Decidiu mergulhar nos clássicos. Fez Antígona com assessoria da mega doutoura Kathrin Holzermayr Rosenfield. Foi a pimeira aula de tragédia. Depois, fez Hamlet. A mais careta de todas. Voltou pros gregos em Medéia com a sensacional Sandra Dani no papel principal. Daí até eu, né? E aí chega a vez de Édipo. Insisto em escrever aula de tragédia porque é assim que chegam em mim as três peças gregas: todas têm uma clima de aula de tragédia para o público frequentador do teatro São Pedro. Algo como samba pr inglês ver.
Esta peça é inegavelmente a melhor de todas. Ainda paira um tom de caretice, mas mesmo sem nunca ter participado do chamado teatro de grupo, Luciano está investindo também na manutenção de vários nomes do seu elenco. Os atores, e ele mesmo, vão se apropriando daquela linguagem trágica e suas interpretações vão se tornando mais vigorosas. Concordo plenamente com Renato Mendonça quando ele escreve em seu comentário que "brilham Marcelo Adams, como um Édipo bem-intencionado, egocêntrico e épico, Marcos Contreras, construindo um Creonte sempre a ponto de explodir, e Lutti Pereira, interpretando o vidente Tirésias em impressionante clima de transe místico". Faço minhas, as palavras do nobre colega crítico.
Quanto a polêmica sobre o efeito da trilha com Roling Stones, fico achando que tanto faz colocar Stones, quanto Pink Floyd, quanto The Who, quanto Beatles, quanto qualquer outra preferência musicaldo Luciano não faria diferença alguma. A música parece dissociada da peça. Uma coisa é a peça, outra coisa é a música. Elas não se contrapõem nem se acrescentam. Creio eu. É uma bricdeira do diretor, uma inofensiva licença poética. Um coup de théâtre pra inglês ver.
Modesto Fortuna.

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