domingo, 17 de maio de 2009

O MELHOR DO TEATRO FOI A DANÇA



E fui ao teatro no sábado. Quando assisti a primeira peça da minha vida, fiquei deslumbrado. Não acreditava no que estava vendo. Como era lindo! Como era lindo! Era uma adaptação de "A Moreninha", que pude ver no Theatro São Pedro, antes da reforma.Desta vez, ganhei um convite para assistir "Eu Preciso Aprender a Ser Só", com direção de Eduardo Kramer, que é um diretor sempre inventivo tanto na luz quanto na direção. De cara fiquei feliz porque tinha gente suficiente pra quase lotar a Sala Álvaro Moreyra, que está bem equipadinha e coisa e tal, mas conserva pra sempre a sina de "sala". Até que alguém a transforme num teatro, vai ser sempre uma sala. Acho que ja disse aqui que adoro quando vou ao teatro e tem bastante gente pra assistir. Já vi trabalhos anteriores de Eduardo Kraemer. O que mais permaneceu em mim foi "Espancando a Empregada", que vi na mesma sala, com a dupla Renato Campão e a minha diva Arlete Cunha arrasando, destruindo as pseudo estruturas do público e do teatro. O texto de "Preciso Aprender..." é infinitamente mais fraco, raso e batido do que o texto da outra peça citada. Isso faz uma diferença significativa. A falta de comunicação na vida moderna, a condenação a solidão do ser humano no mundo contemporâneo, a obrigatoriedade de ser políticamente correto num mundo cada vez mais defeituoso e fragmentado, são temas abordados em diversos filmes e espetáculos do final do século passado e contemporâneos. É o tema, por exemplo, de "Encontros Depois da Chuva", de Adriane Mottola. O melhor da peça, aquilo que mais me tocou, foram as coreografias. A parte teatro do espetáculo de teatro/dança do Eduardo, estava enfraquecida pelo texto; pelas pálidas performances dos atores, cujas interpretações não alçam vôo em momento nenhum; pela repetição e pela constante multiplicação por três que tornava o espetáculo previsível. Só não era cansativo porque teve o justo tempo de duração. Mas, como eu dizia, foi justamente na parte dança da peça que o espetáculo chegou até mim. Os três homens do elenco eu conheço e sei que não são bailarinos. Marco Antônio Sório colega de longa data, dos tempos do Palhaçadas no Teatro de Arena. Esteve muito tempo afastado do teatro e retornou integrando o elenco de várias peças do Teatro Ofídico. Marco está na hora de fazer um trabalho mais maduro e profundo. Mostrou-se inseguro em relação a marcas e tropeções no texto. Rafael Guerra e Everson Silva são oriundos das oficinas de formação de atores do Depósito de Teatro e conheço bem suas manhas e artimanhas recorrentes. Rafael tem verdade no olhar. Everson ainda mantém uma fala atrapalhada e uma falta de foco e definição no olhar. Os dois têm uma excelente energia e são bastantes perspicazes, mas sofrem de uma mesma doença que não permite que voem mais alto, ou mais fundo. Nenhum dos três dança. Das atrizes só conheço Sayonara Sosa, que também andou um tempo afastada e retornou atendendo o chamado do palco. Aparece com muita energia neste trabalho. Muitas vezes, demasiada energia, eu diria. Interpreta e reage o tempo inteiro, sofre o tempo inteiro. Sua interpretação fica exagerada porque é uma exceção no conjunto. Destoa. Não para em momento nenhum. Fica afetada, muito diferente da interpretação das outras duas, Claúdia Canedo, voz muito bem colocada, interpretação somente adequada, e Débora Geremia que defende com garbo e energia sua parte. A Sayonara eu acho que dança, as outras duas não sei se são também bailarinas. Mas, acontece que quando o elenco dança, ele se comunica. O teatro aparece e se instala. A Sala Álvaro Moreyra vira teatro. A peça acontece. Chato mesmo é a campanhia que marca algumas partes do texto. Não ajuda nada. E aquela mal arranjada locução no final da peça. É horrível. No cenário, básico e multiplicado por três, já aparece um certo descuido, mas a locução é bem pior. A iluminação não é tão inventiva, quanto se espera de um espetáculo do Eduardo Kraemer e torna-se apenas funcional. A direção é apenas correta. Eu, particularmente, prefiro aquele Teatro Ofídico radical na escolha de seus textos, provocações e pesquisa de linguagem.
M.F.

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