domingo, 17 de maio de 2009

PÍPPI MEIA LONGA

Vou tentar ser bem direto em meu comentário sobre Píppi Meialonga que, cheio de curiosidade, fui assistir, temeroso por estar encarando mais uma peça do nosso combalido teatro infantil. A peça tem direção da minha querida amiga (na verdade, a gente apenas se cumprimenta, mas acho ela uma querida amiga) Moira Stein. A peça é longa e vai perdendo o interesse em seu terço final, sinal de que o(a) adaptador(a), cujo nome não aparece na ficha técnica, não soube ou ficou com pena de cortar acontecimentos para dinamizar a montagem, ou realmente prefiriu manter com este tamanho mesmo.O grande problema ou questão reside no fato do espetáculo, na minha opinião, não ser fiel a autora. É fiel no conteúdo, ao tamanho do texto quando coloca toda a história do livro dentro do espetáculo e, assim, não frustra a expectativa das crianças. Talvez, seja fiel na forma, ao manter basicamente o cenário que as crianças esperam. Mas não é fiel na essência, na substância... O uso e abuso de personagens tipificados e até certo ponto babacas, a transformação do texto em uma historinha sonsa, a concepção linear e a dinâmica que a diretora imprime ao espetáculo, os figurinos "bem coloridos" e aquele ar de teatro infantil comportado, enfim, a falta de ousadia parece ir contra o âmago da história criada por Astrid Lindgren, que coloca em cena uma menina que faz suas próprias roupas, tem como companheiros um cavalo e um macaco, é destemida a ponto de bater em meninos como a Mônica do Maurício de Souza, enfrenta policiais e recusa-se ir para um lar de crianças, é uma menina que realiza sonhos de liberdade e aventura e além de tudo é feliz. Moira Stein, concebe um espetáculo convencional, baseado em personagens convencionais para apresentar uma menina que pode ser tudo, menos convencional.Se, por um lado, Tatiana Paganella (que ja vi atuando sob direção de Néstor Monastério em "A VIDA MUDA, cria uma personagem crível, por outro, interpreta completamente sem o brilho e a energia solicitados pela personagem de Astrid Lindgren. Juliano Straliotto e Ágata Baú, ex alunos do Depósito e formados pelo DAD, criaram para suas personagens (certamente com a permissão da diretora) duas personalidades absolutamente esteriotipadas, ja que fingem-se de crianças o tempo todo e transformam os irmãos Tom e Aninha, únicos amigos de Píppi Meialonga, em uma dupla sem graça. As outras personagens seguem e mesma linha conseguindo produzir um esteriótipo ainda pior. Todos executam "tipos", rascunhos de personagens. Menos um. Meu amigo pessoal, Herlon Höltz é uma grata surpresa. Aparece muito bem, principalmente na personalidade que cria para o Ladrão Tonerre. É muito boa e crível a maneira com que Tonerre se desloca pela cena. Corpo, voz e espírito dão credibilidade à personagem. Ponto para o Herlon. Pra mim, ele dá o tom do que poderia ser o espetáculo. Ora, como vamos acreditar na história de uma menina de nove anos que mora sozinha e tem um pai pirata, se não houver um pouco de loucura na forma, na concecpção e nas personagens? Eu não acredito. Píppy MeiaLonga, a peça, está indicada em algumas categorias do Troféu Tibicuera, premiação oficial da nossa Prefeitura para o teatro infantil local. Então, apesar de perceber várias qualidades no espetáculo, apesar de enxergar a honestidade da proposta de Moira Stein, sou obrigado a pensar no rumo que está tomando o teatro infantil produzido aqui e clamar: onde foram parar a criatividade, a inventividade e a ousadia? Que saudade das montagens infantis do Dilmar Messias, do Luis Henrique Palese, da Irene Brietzke. Onde estão os atores mais experientes que sumiram da peças infantis? Quais as causas do empobrecimento do nosso teatro infantil?
M.F.

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